Aline Costa, de Salvador (BA)

 

– “Vadiazinha!”

– “Vagabunda!”

– “Machorra! Pensa que não te conheço?”

Desarmadas e permanecendo cerca de 45 minutos com as mãos para cima, sete mulheres abordadas pela Brigada Militar de Porto Alegre (RS), sofreram – sem filtro – a violência da opressão machista, racista e LGBTfóbica, combinada com a repressão brutal da polícia.Elas estavam junto com mais de 120 pessoas que saíram da manifestação em frente à empresa de transporte Carris, no dia 30 de junho, dia de lutas e paralisações em todo o país.

O que deveria ser uma ação de paralisação dos rodoviários e rodoviárias, como forma de exigir dos governos que retirem seus ataques aos direitos da classe trabalhadora, se transformou em verdadeira praça de guerra. A BM atacou violentamente os manifestantes com bombas e muita truculência, prendeu arbitrariamente um professor da rede estadual de ensino e o mandou para o Presídio Central e, pouco depois,abordou, revistou e despejou ofensas covardes contra mulheres que estavam na manifestação e até violência física a uma delas durante quase uma hora.

A ação da Brigada foi filmada ao vivo pelo repórter da Rádio Gaúcha, Felipe Daroit, que nitidamente estava de acordo com a truculência policial: em nenhum momento p jornalista questionou a violência e as bombas, muito menos a abordagem e a revista das meninas. A política do “não é comigo”, fruto da mentirosa neutralidade do jornalismo, representou mais uma vez a cumplicidade do repórter com a situação de violência. Um fato que degrada também a cobertura jornalística da emissora, da qual se espera outra atitude: a de denunciar o que está errado.

É importante chamar atenção para o lugar de onde estamos apontando tal situação. Há, no Brasil, um aspecto de calamidade pública no que diz respeito à violência contra mulheres, LGBTs e povo negro. Temos uma das polícias mais violentas. O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial nefasto dos países que mais matam LGBTs, e a quinta posição mundial no que se refere ao assassinato de mulheres, em que a combinação entre racismo e machismo mata mais as mulheres negras. Houve um aumento de 22% equivalente ao homicídio dessas nos últimos dez anos segundo o Ipea.

Estamos onde as mulheres negras são as que recebem os menores salários, estão nos piores postos de trabalho e são as que mais residem nas periferias das cidades. A construção social da mulher negra como objeto sexual, hipersexualizada e propriedade masculina, resquícios da ideologia escravocrata, também está presente nessa agressão.

A violência policial continua sendo um dos principais temas que despertam medo e pavor entre a população das grandes cidades brasileiras. Há uma orientação para um procedimento operacional padrão que se baseia na violência física e psicológica que usa, supostamente, para garantir o cumprimento de leis.Mas as leis que o Estado tanto prima e brada como ordem não levam em conta que a humilhação, o constrangimento, o insulto, a chantagem e a ridicularização são tipos de violência passíveis de punição criminal.

Devemos denunciar a violência policial do dia 30 de junho na Carris e exigir nas ruas o fim da criminalização dos movimentos sociais e da conduta criminosa, racista, machista e LGBTfóbica da polícia do governador Ivo Sartori (PMDB).

Mulheres, negras e LGBTs vivem a opressão a todo momento. No sistema capitalista é impossível não viver, porque isso alimenta a lógica da superexploração, que se aproveita das diferenças para obtenção de vantagens e maiores lucros aos patrões, especialmente em momentos de crise econômica. Nós, trabalhadores e trabalhadoras, juventude, precisamos nos proteger da polícia, proteger nossas filhas e filhos, que serão violentados e assassinados se forem pobres, negras, negros, homossexuais e se, por culpa do próprio Estado, estão em situação de risco e vulnerabilidade.

Nossa luta é ainda maior
A democracia dos ricos não é capaz de pôr fim às mazelas do capitalismo. A violência contra as mulheres, negras, negros e LGBTs segue se acirrando e tem suas raízes na contradição de classe desse sistema. Portanto, nossa luta está a serviço de construir uma sociedade sem classes, o socialismo, onde não haja nenhuma forma de opressão e de exploração.

Desmilitarização da PM Já! Por uma polícia controlada pela população civil!
Lutar Não é Crime! Não à Repressão!
Machistas, Racistas e LGBTfóbicos não passarão!
Fora Temer! Fora Sartori! Fora Todos Eles!
Por um governo socialista dos trabalhadores apoiado em Conselhos Populares!