As mobilizações de junho mudaram a situação política no país. Agora, se discute política nas conversas durante o trabalho, em casa, nas festas. Pessoas que antes não participavam das lutas viraram ativistas. As pessoas estão mais animadas para se mobilizar. Os governos ficaram na defensiva, acuados pelas mobilizações. As grandes empresas, que dominam esses governos, ficaram apavoradas porque sentiram a ameaça de um processo revolucionário no Brasil.
Essa nova situação da luta de classes se concretiza em conjunturas diferentes. Tivemos as grandes passeatas de junho. Vivemos um ensaio de greve geral, em 11 de julho. As mobilizações diminuíram desde a segunda quinzena de julho, passando por esse início de agosto. Seguem ocorrendo mobilizações em defesa de inúmeras causas. Mas, sem a massividade das passeatas de junho ou das greves de julho. 
A relação de forças entre as classes aberta em junho não se alterou na essência, mesmo com protestos menores. É isso que explica a onda de ocupações de Câmaras de Vereadores e Assembleias Legislativas no país. 
 
É preciso retomar as mobilizações massivas
A situação política do país mudou desde junho. Mas só a situação política. Todo o resto ficou como antes. As pequenas vitórias ocorridas, como a revogação do aumento das passagens do transporte, são mínimas. 
Os salários continuam baixos, o transporte caótico, a saúde e a educação pública seguem um desastre. A corrupção é gigantesca, envolvendo tanto o PT como o PSDB. O escândalo dos governos do PSDB de São Paulo com o metrô só demonstra o cinismo da oposição de direita ao criticar o mensalão do PT. 
E, agora, existe o risco de que não se mude nada mesmo no país. Com a diminuição das mobilizações, o Congresso Nacional deixou de lado a “pauta positiva” que chegou a esboçar no auge das grandes passeatas de junho, que incluía o passe livre para estudantes. Nas cidades, se passa o mesmo, com as prefeituras e governos estaduais, que estão tentando retomar a iniciativa. 
É preciso retomar às mobilizações de massa. Para isso, é necessário definir reivindicações e articular as lutas, porque não se pode apostar mais no espontaneísmo.
Existem, nesse momento, várias lutas contra os governos estaduais e municipais. O “Fora Cabral” e o “Fora Alckmin” ecoam em mobilizações no Rio e em São Paulo. A juventude está retomando as aulas e a Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (ANEL) está lançando uma campanha pelo passe livre que volta às ruas em todo o país. 
 
A preparação do dia 30
Mas, sobretudo, existe um novo marco para as mobilizações, o Dia Nacional de Paralisações, marcado pelas centrais para 30 de agosto. O dia 11 de julho passado foi uma das maiores greves que o país já viveu. Agora, o dia 30 pode ter uma importância ainda maior. 
Já existe uma experiência acumulada que pode fortalecer essa segunda paralisação. E essa data está sendo articulada com as campanhas salariais do segundo semestre, que incluem bancários, petroleiros e metalúrgicos. Os bancários e professores já definiram uma paralisação nacional. Existe uma boa possibilidade de incorporação de metalúrgicos, dos trabalhadores da construção civil e outras categorias operárias, assim como do funcionalismo público. A juventude pode deflagrar uma greve nacional que pare as escolas de todo o país. E os trabalhadores dos transportes podem se incorporar em mais estados, caracterizando verdadeiras greves gerais em várias regiões. O movimento popular nas cidades e no campo pode se somar.
A paralisação nacional tem como reivindicações temas bastantes sentidos pelos trabalhadores, como a exigência dos 10% do PIB para educação, 10% do orçamento para saúde, o fim dos leilões das reservas do petróleo, fim do fator previdenciário e salário igual, trabalho igual. 
Houve muito questionamento entre a vanguarda, em função da participação dessas centrais nas mobilizações de 11 de julho. Para julgar um movimento é preciso observar a suas bases. A grande paralisação do dia 11 de julho foi, por isso, um importante passo adiante: a classe operária entrou em cena e sua greve se enfrentou objetivamente com a política econômica do governo. Entre outras coisas, a mobilização criou uma contradição maior entre esses trabalhadores em movimento e suas direções governistas. Na hora em que esses burocratas decidirem dar um passo atrás, vão se chocar com suas bases. 
Por outro lado, a desconfiança em relação a essas centrais pode ser muito positiva. Nada garante que a CUT e a Força Sindical se mantenham na convocação do dia 30, exatamente por serem burocráticas e governistas. Por isso, é necessário que a preparação dessas greves seja feita pelas bases, para que, caso as direções governistas recuem, o movimento possa ser preservado. Além disso, já está se dando uma polêmica clara com as direções governistas como a CUT e o MST, que querem desviar as mobilizações para o apoio à proposta política do governo de plebiscito. Temos de preparar, pela base, a mobilização e direcioná-la claramente contra o governo.
Por isso, a CSP-Conlutas e a ANEL, juntamente com movimentos como a Feraesp (Federação dos Trabalhadores Rurais de São Paulo), A CUT-Pode Mais, a maioria da direção da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef) e outros setores, estão chamando plenárias abertas nos estados para a preparação do dia 30.
Além disso, é muito importante que todos os novos organismos construídos desde junho, como o Fórum de Luta do Rio, a Assembleia Horizontal de Belo Horizonte, o Bloco de Luta de Porto Alegre e o Mais Pão Menos Circo de Fortaleza se incorporem na preparação do dia 30. 
É necessário articular reuniões nos bairros populares, integrando as subsedes dos sindicatos, movimentos populares, e entidades estudantis que possam avançar na preparação pela greve das paralisações do dia 30 de agosto.
Vamos parar o país! 
 

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