O avanço da crise política em meio ao aprofundamento da crise econômica e social fez soar o alerta vermelho nas instituições. A crescente instabilidade poderia colocar em risco não só as reformas que a burguesia e o imperialismo exigem, como a própria sobrevivência política de grande parte dos políticos já imersos numa enorme desmoralização.
A escandalosa pizza assada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), preparada por Gilmar Mendes com a ajuda dos advogados de Dilma e Temer, já sinalizava o acordão ao salvar a chapa eleita em 2014. Na semana passada, pouco tempo depois da apresentação da denúncia de corrupção contra Temer, o mesmo Gilmar Mendes recebeu Temer num jantar em sua própria casa. O encontro às escondidas, claro, não constou na agenda oficial do presidente.
Já no finalzinho da semana, de uma só vez, o STF via ministro Marco Aurélio não só negar o pedido de prisão ao senador Aécio Neves (PSDB-RJ), como devolver o mandato ao tucano. Numa decisão que é um verdadeiro escárnio, o ministro chega a dizer que Aécio, flagrado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, conta com “uma carreira política elogiável“.
Poucos minutos depois, o também ministro do STF, Edson Fachin, mandou soltar o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o “homem da mala”, pego na botija carregando uma mala com R$ 500 mil, cujo destinatário era o Planalto. Com isso, fica mais difícil o carregador de malas fazer delação premiada e entregar seu chefe.
O acordão, porém, não se restringe ao governo e o Judiciário. Em declaração à imprensa, Lula se alinhou a Temer contra o Procurador-Geral Rodrigo Janot que o denuncia. “Se o procurador-geral da República tem denúncia contra o presidente, tem que provar“, disse, para logo em seguida completar: “cansei de ser achincalhado sem provas“. E não para por aí. Neste domingo, a Folha de S. Paulo trouxe a notícia que Lula articula, junto com Temer, Dilma e Aécio, um manifesto contra a Justiça e o Ministério Público, atacando a Lava Jato.
Se por cima o governo, o PT, PSDB, e o STF avançam num acordão, por baixo as cúpulas das principais centrais sindicais não ficam atrás e cumprem o papel de segurar o movimento para impedir a derrota das reformas e a queda do governo. As direções da Força Sindical e da UGT já vinham negociando com o governo para frear a Greve Geral marcada para o dia 30 em troca da manutenção do famigerado imposto sindical na reforma trabalhista. Não conseguiram desmarcar a greve por conta da pressão da base, mas empreenderam uma grande operação desmonte para que a Greve Geral do dia 28 de abril não se repetisse.
A CUT também entrou nessa, não mobilizou suas bases e joga todas as suas forças para canalizar tudo no movimento das “Diretas Já”, uma campanha que visa a eleição de Lula em 2018. Isso num momento em que o governo se encontrava num momento de fragilidade com a denúncia de corrupção e que a reforma trabalhista avançava no Senado, ficando prestes a ser aprovada definitivamente no Congresso. Havia condições inclusive do 30 de junho ser superior ao 28 de abril, mas a ação consciente das grandes centrais impediu.
A divisão de tarefas é descarada: o governo, PT, PSDB, e o STF seguram a Lava Jato e a crise política em cima, e as centrais seguram o movimento em baixo. E, assim, costura-se um grande acordão em favor do governo, dos corruptos e das reformas.
A força da classe trabalhadora, porém, pode, aliada à crise e desmoralização desse regime, e à divisão da burguesia, jogar por terra esse acordão. A prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, até ontem o homem forte de Temer no governo, é expressão disso. Para isso é preciso avançar na organização dos trabalhadores, nos comitês de luta contra a reforma na base e nas periferias, e na construção de uma direção consequente para a classe. O próprio dia 30 de junho, que foi um forte dia de lutas e paralisações contra a vontade das cúpulas das principais centrais, mostrou isso.