Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista
Marcos K. e Matheus Mello, do Rebeldia
Estudantes e jovens do país inteiro receberam com ânimo a notícia, na semana passada, de que o governo federal suspenderia a aplicação do Novo Ensino Médio (NEM), inclusive cancelando a sua implementação na edição do Enem deste ano. Isso foi uma vitória importante, em especial do movimento estudantil, que há meses realiza uma intensa pressão para que Lula revogue o NEM.
Porém, é importante que as intenções do governo fiquem nítidas para todos os estudantes e ativistas. Conquistamos a suspensão do NEM, porém não sua revogação. Diante da forte pressão, o governo decidiu rediscutir o projeto, “aprimorá-lo”, nas palavras do ministro da Educação, Camilo Santana, para eventualmente voltar a implementá-lo. O próprio Lula foi bem categórico sobre isso, dizendo, na quinta passada (dia 5/4): “Não vamos revogar. Suspendemos e vamos discutir.”
A luta contra o NEM, portanto, está longe de terminar. Com nossa luta e pressão, arrancamos uma primeira vitória, que foi a sua suspensão. Mas não podemos parar por aqui. Pois não há “aprimoração” possível no NEM que mude o seu caráter essencialmente reacionário. O projeto deve ser revogado em definitivo, e é necessário que o movimento estudantil siga se mobilizando para arrancar essa conquista. As direções das grandes entidades estudantis, como a União da Juventude Socialista (UJS), que dirige a União Nacional dos Estudantes (UNE), devem seguir organizando a luta e exigindo de Lula a revogação do NEM, e não apenas sua suspensão!
Entenda
QUATRO MOTIVOS POR QUE DEVEMOS DERROTAR O NOVO ENSINO MÉDIO
Aumenta a desigualdade entre as escolas dos ricos e dos pobres
A ideia vendida de que os estudantes terão “liberdade de escolha” para decidir um itinerário formativo é totalmente falsa. Sabemos que enquanto nas escolas particulares dos ricos, há tecnologia, professores e instalações de sobra que permitiriam ao aluno escolher de fato o que deseja estudar, nas escolas privadas menos caras e nas públicas reina o sucateamento, o que significa que as opções dos estudantes serão limitadas, e eles serão obrigados a aceitar aquelas disciplinas que forem ofertadas. Portanto, para os ricos, a mais ampla liberdade de escolha, e para os pobres, a imposição, produto do sucateamento. E, assim, fica cada vez mais gritante a desigualdade entre as escolas dos ricos e dos pobres.
Condena os estudantes pobres a um acesso inferior ao conhecimento científico
Enquanto nas escolas dos ricos, os recursos tecnológicos permitem a criação de verdadeiros centros de excelência, nas dos pobres, o NEM retira do currículo dos estudantes disciplinas como Artes, Filosofia, Educação Física, História, Geografia, que são parte integrante daquilo que a humanidade tem acumulado de conhecimento científico. Elas podem ser substituídas por disciplinas sem conteúdo, como “Brigadeiro caseiro”, “Projeto de Vida”, “O que rola por aí?”, o que na prática joga todo jovem que for obrigado a fazer essas disciplinas num patamar superior de ignorância e de distanciamento do conhecimento humano sobre o mundo.
Rebaixa o nível da educação para atender a relações de trabalho precarizadas
A substituição de disciplinas de conhecimento científico por essas disciplinas sem conteúdo só demonstra o que é que o mercado precisa neste momento: não de trabalhadores qualificados, mas de trabalhadores “resilientes”, com espírito “empreendedor”, que saberão viver de bicos e suportar o adoecimento que a sociedade causa. Isso só demonstra que o NEM veio para fazer com que o ensino corresponda a relações de trabalho mais precarizadas, informais e rebaixadas.
Abre as portas para o setor privado e ataca os profissionais da área
Os “tubarões do ensino” já são parte dos maiores grupos empresariais do Brasil, e têm uma atuação ainda bastante localizada no ensino superior. O NEM é a primeira grande brecha que permite a entrada do setor privado na educação básica, que ainda é no país majoritariamente pública. Além disso, introduz o profissional com “saber notório”, o que ataca diretamente os professores, diminuindo as exigências para quem precisa dar aula, o que leva a demissões e precarização de seu trabalho.
Brasil capitalista
O NEM demonstra qual o projeto de educação reinante em nossa sociedade
O NEM é uma desgraça, que vem para piorar aquilo que já estava bem ruim: a educação dos trabalhadores e pobres. É uma medida que busca adequar o ensino dos trabalhadores às necessidades dos empresários, do “mercado de trabalho”, do lucro dos bilionários. E isso é assim porque na sociedade em que vivemos o projeto da educação está subordinado ao projeto daqueles que dominam a sociedade. Para romper com essa lógica, arrancar a educação das garras dos bilionários e empresários, precisamos sim derrotar o NEM. Porém, precisamos ir além: construir outro tipo de sociedade, com os trabalhadores, povo pobre e sua juventude dirigindo-a, para assim poder construir um projeto de educação que sirva não aos interesses dos bilionários, mas dos trabalhadores, povo pobre e sua juventude.