Dos seus 518 anos de história, o Brasil tem mais ou menos 518 anos de economia submissa e dependente voltada para a exportação de produtos primários.
Isso significa que durante seus cinco séculos sua estrutura econômica, institucional, política e jurídica foram projetadas para isso: alta concentração de riquezas, grandes remessas para o exterior, privilégios, seletividade da justiça etc.
Mesmo que quiséssemos dar a ela outra orientação, a pressão externa – seja ela “diplomática” ou econômica, através dos grandes grupos que controlam setores chave – forçaria a estrutura a permanecer como está.
Não é a índole radical, mas a necessidade objetiva que coloca a necessidade de uma ruptura estrutural. Acreditar que é possível uma mudança apenas com boa vontade e “boa gestão” ou é inocência, contentamento com migalhas ou populismo.
Rechaçar a conciliação de classes junto com bancos [privados] que cobrem uma “taxa civilizada de juros”, com os bons empresários que geram empregos, inclusive lançando um como candidato, respeitando o “direito à propriedade”; ou então que o país pode prescindir de qualquer modelo e encontrar seu próprio caminho para a justiça social (uma espécie de “via tupiniquim”) é ignorar a existência de uma economia globalizada e de mais de 500 anos de história.
Acreditar na ruptura sem rompimento é acreditar na reforma estrutural sem mexer na estrutura. E o português brasileiro tem nome próprio pra isso: puxadinho.
O programa político apresentado por Guilherme Boulos não apresenta nada de muito novo (e olha que os entrevistadores acabaram ajudando de tanto se atrapalharem). É o programa do PT repaginado “pós-golpe”. Aliás, o próprio PT já foi mais radical que isso, e deu no que deu. Deu no que deu também o Podemos espanhol e o Syriza grego. É aquilo né, o clone envelhece mais rápido que o original.