No entanto, há um aspecto desse tipo de governo que mantém plena atualidade: em sua intenção de se apoiar na mobilização das massas, estão brincando com fogo, porque existe o sério perigo de que essa mobilização transborde em direção a um processo revolucionário independente que rompa os marcos do Estado burguês. Por isso, o governo tem a necessidade de exercer um férreo controle sobre as mobilizações e construir diques de contenção para evitar esse processo.
Um estudo histórico nos mostra que esses governos empregam duas ferramentas principais. A primeira é a construção de um partido totalmente disciplinado ao redor de um líder com poderes ilimitados e seus delegados designados a dedo. Basta ver o que foram o peronismo, o PRI ou o nasserismo para entender o critério com o qual o PSUV está sendo construído (ver artigo).
Não existe nenhuma possibilidade de que esse partido seja a ferramenta para expressar democrática e organizadamente as aspirações de transformação social das massas venezuelanas, porque ele está sendo construído desde o Estado para obter exatamente o contrário: controlar e engessar as massas. Chamar as massas a aderir ao PSUV, longe de impulsionar a mobilização autônoma, só contribui para acorrentá-las ao curral bonapartista que está sendo construído pela burguesia para evitar precisamente esse movimento.
Digamos finalmente que o caráter bonapartista desses governos os força a restringir a democracia em geral. Exemplo disso foi a votação parlamentar outorgando plenos poderes a Chávez para governar. Não havia nenhuma razão para justificar essa medida, já que o governo tem uma maioria absoluta no Parlamento e pode aprovar as leis que quiser. Foi simplesmente uma mostra de disciplina ao líder.
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