O cantor e compositor, Geremias Pereira da Silva, conhecido com Gerô, foi morto no dia 22 de março por dois policias militares em São Luis. Segundo informações, os criminosos de fardas abordaram o artista numa parada de ônibus e iniciaram ali mesmo, em plena luz do dia, uma série de torturas que lembra os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil. De acordo com as constatações no IML, Gerô, depois de algemado, teve cinco costelas quebradas, parte do maxilar afundado e os rins dilacerados – o que teria provocado hemorragia interna -, além de várias escoriações por todo o corpo.

Gerô era um artista negro e pobre que sempre utilizou sua poesia como ferramenta de sobrevivência e de luta política, fato este que indubitavelmente, teria despertado o ódio cego dos políticos corruptos e do aparato repressivo. Numa de suas composições, Gerô denuncia o secretário de cultura da prefeitura do PDT, após um desintedimemnto entre os mesmos. Da mesma forma, Gerô não era bem quisto pela oligarquia Sarney, grupo ao qual, ao contrário da maioria dos artistas maranhenses, nunca se curvou politicamente. Alias, no dia de seu assassinato Gerô estava com uma bolsa com o dizer “não se vende, não se rende”.

O racismo institucionalizado
Enquanto a corrente majoritária do Movimento Negro ainda comemorava a criação da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) estadual, a dura realidade comprovou que os negros do Maranhão não têm muito a comemorar. Enquanto esta secretaria, cheia de boas intenções, é criada sem verbas e sem poder de interferência nas decisões do governo Jackson Lago (que derrotou a oligarquia Sarney), os jornais anunciam altos investimentos no aparato repressivo e a reedição da condenada política de ocupações dos bairros de periferia.

A fala de um membro da Seppir de que “não dá pra romper com o racismo em quatro anos” é um forte indicativo de que a inoperância da Seppir do governo Lula será reproduzida em nível estadual. Nunca é demais lembrar que este governo teve como candidato ao senado o ex-governador biônico da ditadura militar, João Castelo, que ficou conhecido pelas perseguições e torturas praticadas contra militantes da esquerda maranhense. Ou seja, é impossível eliminar o racismo participando de um governo cuja estrutura se encontra contaminada por elementos racistas e burgueses.

Para que de fato possamos avançar no combate ao racismo em sua totalidade, é necessário que “haja um forte investimento em infra-estrutura (habitação, saúde, educação, geração de empregos), além da criação de defensorias públicas nos bairros de periferia e a constituição dos conselhos populares de auto defesa em que a população possa de fato discutir e intervir no direcionamento da política de segurança pública do nosso estado” como bem frisou Marcos Silva, amigo pessoal de Gerô e militante do PSTU e da Conlutas.