A profunda insatisfação da população com os governos e com regime político e uma ruptura dos trabalhadores com o PT se expressaram fortemente nas eleições municipais realizadas em 2 de outubro.
Encerrado o primeiro turno, os resultados demonstram uma abstenção recorde que, somados aos votos brancos e nulos, superam em muito as votações obtidas pelos candidatos mais votados na maioria das capitais e grandes cidades do país.
Muitos partidos diminuíram o número de votos para prefeito este ano em relação a 2012. Mas o PT despencou: caiu de segundo mais votado para a nona colocação, perdeu mais de 10 milhões de votos.
O PT perdeu a prefeitura de São Paulo e de outras 373 cidades que governava. Além disso, candidatos apoiados por Dilma (PT), como Jandira Feghali, do PCdoB do Rio de Janeiro, afundaram. Mas os números demonstram que nenhum partido capitalizou eleitoralmente a maioria dessa ruptura.
As urnas também foram cruéis com Temer e o PMDB, que viram Marta Suplicy, candidata à prefeitura de São Paulo, naufragar junto com Pedro Paulo, candidato do prefeito Eduardo Paes no Rio de Janeiro.
O PSDB foi o partido que mais se beneficiou eleitoralmente com a ruptura de massas com o PT, com o aumento dos nulos, brancos e abstenções e mesmo com uma fatia do voto castigo contra os petistas: ganhou um maior número de prefeituras. Teve também um aumento do número de votos nacionalmente, embora sofra uma importante crise interna. Esse capital certamente será utilizado contra os trabalhadores.
As eleições municipais ocorridas sob a mudança da situação política aberta a partir das jornadas de junho de 2013, e em meio a uma profunda crise econômica e política alimentada pelos escândalos de corrupção, foram marcadas pela enorme descrença da população com os governos e os políticos. Também confirmaram a ruptura dos trabalhadores com o PT, que protagonizou o maior estelionato eleitoral da história nas eleições passadas. Estes dois processos se expressaram distorcidamente nas eleições.
Em nossa opinião, ao contrário do que defende setores da esquerda, não vivemos uma onda conservadora, mas sim uma profunda desilusão dos trabalhadores e do povo pobre com o regime político e um sentimento de traição em relação ao PT.
“Não voto” dispara e vence eleições em 10 capitais
O grande vitorioso do primeiro turno das eleições municipais foi o “voto em ninguém”. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a soma de votos nulos, brancos e abstenções superou o primeiro ou segundo colocado na disputa para prefeito em 22 capitais.
Somadas, as abstenções, nulos e brancos superaram o primeiro colocado em dez capitais: Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Campo Grande (MS), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Cuiabá (MT), Aracaju (SE) e Belém (PA).
No Rio de Janeiro, a capital do “voto em ninguém”, as abstenções somaram 24,28%, os brancos chegaram a 5,5% e os nulos, 12,76% (totalizando 42,54%, ou 1.866.621 votos). Tal soma é superior ao total de votos obtidos pelos dois candidatos mais votados: Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), que obtiveram respectivamente 842.201 votos (27,78%) e 553.424 votos (18,26%). Em 2012, os índices abstenções, brancos e nulos tinham sido, respectivamente, de 20,45%, 5% e 8% (totalizando 33,45%). Ou seja, na capital fluminense, de cada dez eleitores, quatro não votaram ou votaram nulo e branco.
Em São Paulo, João Dória (PSDB), que se beneficiou da ampla abstenção e do número de votos nulos na periferia, e de uma parcela de voto castigo ao PT, obteve 53,29% dos votos válidos. Venceu no primeiro turno, algo que não ocorria desde 1992. Mas teve também menos votos que a soma das abstenções (21,84%) e dos votos brancos (5,29%) e nulos (11,35%), totalizando 38,48%. O “voto em ninguém” representou 3.096.304 eleitores, enquanto o tucano registrou 3.085.187 votos. Um resultado também superior em relação às abstenções e nulos das eleições de 2012 (28,89%). Para se ter uma ideia ,em Guaianazes, periferia de São Paulo, os nulos e brancos fecharam em 21,4%. Já nos Jardins, tradicional reduto dos ricos, foram só 6,9%.
A mensagem “eles não nos representam”, que ecoou nas jornadas de junho de 2013 e na onda de greves e lutas que ocorrem no país desde então, continua crescendo. Se fez presente nessas eleições e as administrações que saem daí terão mais fragilidade política. É bom lembrar que, apesar das mentiras e falsas promessas, os prefeitos eleitos terão que aplicar um ajuste fiscal duríssimo em seus municípios, o que levará a enfrentamentos com os trabalhadores e com a juventude.
Não há onda conservadora
Sem dúvida alguma, a eleição de Dória e o resultado geral do PSDB que se beneficia de certo vácuo criado pela desigualdade entre a progressiva ruptura com o PT e a falta de uma alternativa operária e revolucionária, permite a esse partido uma vitória eleitoral, superestrutural e conjuntural que fortalece seu projeto. Fortalece também a base governista no Congresso e ajuda a dar moral à burguesia para desferir os ataques aos trabalhadores.
Mas se enganam aqueles que pensam que, ao se beneficiar do voto castigo ao PT e da grande abstenções e votos nulos na periferia, o tucano recebeu um cheque em branco ou um voto de apoio ao programa neoliberal do PSDB. Basta ver os índices de reprovação de Alckmin na capital.
As eleições sempre são uma expressão distorcida da luta de classes. Dória e demais prefeitos do PSDB, DEM e outros partidos burgueses vão aplicar o mesmo programa que levaram as massas a romperem com Dilma e o PT. Contra essas medidas os metalúrgicos cruzaram os braços no último dia 29, mostrando que não há nenhuma “apatia” na classe operária.
Os trabalhadores não se sentem derrotados. A correlação de forças será decidida nas lutas. O resultado eleitoral tem certa semelhança com os resultados da Espanha de 2011, logo após a mobilização dos “Indignados” e a derrocada do PSOE (partido semelhante ao PT). A diferença é que essas eleições são municipais, menos importantes e ocorreram sob um governo tampão tremendamente impopular.
O mito da democracia burguesa, da mudança através do voto, começa a ser questionado por setores de massas. São sintomas de um processo mais profundo de polarização social e política, de instabilidade, que abre tendências à esquerda e à direita. O terreno da classe trabalhadora não são as eleições burguesas, mas a luta direta das massas.
Mais que nunca é preciso se apoiar nesse processo e avançar na organização e unificação das lutas rumo à Greve Geral para derrotar as reformas do Temer e abrir caminho, botar fora esse governo, superar de vez o PT e dar um basta nesse regime e nesse sistema.
O preço da traição: Voto castigo contra o PT
A enorme derrota sofrida pelo PT nessas eleições começa pela perda de 10 milhões de votos em relação a 2012. Passa, também, pela derrota em São Paulo e a perda de mais de 370 prefeituras no país. O resultado é produto da profunda indignação dos trabalhadores com o PT e com o ajuste fiscal do governo Dilma.
A ruptura com o PT vem desde antes, começou com as revoltas dos operários nas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e greves de 2012. Continuou com as jornadas de junho totalmente fora do controle do PT e da CUT. Deu um salto com o segundo mandato quando Dilma aplicou medidas de ajuste fiscal contra os trabalhadores. Finalmente, explodiu com os escândalos de corrupção envolvendo dirigentes petistas.
A crise do PT é a derrota de um projeto político de “gerir o capitalismo com distribuição de renda”, em aliança com setores da burguesia, com uma política e programa para governar com banqueiros e empreiteiras. É a crise de um modelo de partido que prioriza a ação institucional à mobilização dos trabalhadores, porque atua nos limites do regime democrático burguês e do sistema.
Não repetir erros do PT: PSOL vai para o 2º turno no Rio e em Belém
O PSOL, apesar de ter tido menos votos que em 2012, se fortalece como alternativa eleitoral ao eleger mais vereadores e com a ida de Marcelo Freixo (Rio de Janeiro) e Edmilson Rodrigues (Belém) para o segundo turno.
Ao capitalizar parte do desgaste do PT, o PSOL se fortalece eleitoralmente na disputa do espaço à esquerda do PT. Esses resultados aumentam as responsabilidades do PSOL. Porém, é preciso tirar lições da experiência do PT e não repetir seus erros.
Por exemplo, a ideia de “uma outra cidade possível” só será realidade se a prefeitura romper com os banqueiros e empreiteiras, não aplicar a Lei de Responsabilidade Fiscal, anular os contratos com as Organizações Sociais para garantir saúde pública.
Não adianta apresentar um programa que não rompe com as grandes empresas e com o sistema corrupto, e repetir a tragédia do PT. Sem enfrentar o grande empresariado das construtoras e da máfia dos transportes, apoiando-se na mobilização dos trabalhadores e do povo, não haverá mudanças.
Em nossa opinião, o PSOL apresenta um programa que não enfrenta o capital, defende pequenas reformas nos limites do sistema e, por isso, tende a repetir os mesmos erros do PT.
Em São Paulo, o partido lançou Erundina como candidata, sendo que em 2004 ela encabeçou uma chapa à prefeitura pelo PSB tendo como vice Michel Temer (PMDB). No Rio, Freixo, em entrevista ao jornal Globo, afirmou que não se pode “demonizar a iniciativa privada”.
A ampliação da política de alianças como se operou no primeiro turno em Belém e, agora, no segundo turno também no Rio, é um erro, porque conduz a governos de colaboração com os empresários como ocorreu nos governos do PT. Além do acordo firmado com PCdoB e com a Rede, antes do 1º turno, no Rio, Freixo declarou que vai conversar com PSDB e PSD.
O PSOL nunca foi governo e, neste segundo turno no Rio de Janeiro, gera expectativa em parcelas expressivas de trabalhadoras que querem votar em Freixo para derrotar eleitoralmente Marcelo Crivella (PRB), o mesmo parece ocorrer em Belém.
Diante desse cenário, o PSTU Nacional e do Rio de Janeiro decidiram pelo voto crítico à campanha de Freixo. Nos próximos dias, o PSTU nacional e de Belém decidirá seu posicionamento quanto ao segundo turno nesta cidade.
por Direção Nacional do PSTU