Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista
Julia Emmilyn do Rebeldia, Juventude da Revolução Socialista , de São Paulo
No dia 19 de junho, os estudantes da ETEC Parque da Juventude, em São Paulo, foram surpreendidos com seu professor se masturbando em frente a todos os alunos durante a aula online. O professor foi afastado da instituição está sendo investigado pela polícia em regime de liberdade. Uma cena como essa causa revolta e indignação! E foi essa mesmo a resposta das estudantes das escolas técnicas, que não deixaram passar e se organizaram contra mais esse absurdo!
Uma situação como essa nos faz pensar muito em como o machismo afeta as mulheres jovens e estudantes! E como nós estamos sempre sujeitas a passar por situações de opressão dentro da escola.
Muitas vezes, as pessoas olham a escola como um ambiente de aprendizado e sem opressões, como um espaço democrático e respeitoso, livre de qualquer opressão. Isso é um grande erro. O governo adora apresentar a escola como um mundo aberto de possibilidades para todos estudantes, mas sabemos que isso não é verdade. Principalmente quando paramos para observar a vida das mulheres no ambiente escolar.
As meninas ficam sempre sujeitas a sofrerem constantes abusos sexuais por parte de homens do corpo docente, abusos esses que são ignorados pelos diretores e governadores que só dão algum tipo de resposta mediada quando os estudantes tomam as ruas. Quando um professor comete um crime de assédio sexual ou promove discursos machistas, a responsabilidade é das instituições estudantis e do Estado por nem sequer terem pensado em implementar políticas que previnam esses casos! Além disso, as jovens sofrem constantes questionamentos em relação a suas capacidades intelectuais (porque na cabeça dos grandes empresários e políticos as mulheres jovens, negras e pobres só servem de mão de obra barata e não tem nenhum tipo de capacidade de estar presente no desenvolvimento cientifico da sociedade). Dessa forma, então, na escola muitas vezes são reproduzidas o machismo, a lgbtfobia e o racismo.
As mulheres jovens e a pandemia
Vivemos um momento em que os ataques colocados sobre as mulheres trabalhadoras se tornam cotidianamente mais massacrantes. Tanto pelo aumento brutal da violência doméstica e do feminicídio (que em 2019 teve um aumento de 8%) quanto pelas pressões ideológicas impostas pela burguesia sobre os trabalhadores para perpetuar e aumentar a relação de opressão que mantêm seus gigantescos lucros, como por exemplo, o rebaixamento intelectual das mulheres e a falta de reconhecimento (incluindo um reconhecimento salarial) nos seus postos de trabalho.
Mas os ataques não param por aí, além disso, as mulheres trabalhadoras estão fortemente presentes nos postos de trabalho mais precarizados, como o telemarketing e o serviço doméstico (especificamente mulheres negras). Somado a isso, lhes é imposta uma jornada dupla de trabalho, em que se veem obrigadas a realizar todos os serviços domésticos e ter uma rotina de trabalho formal completamente exaustiva. Com as mulheres jovens essa realidade é mais brutal e massacrante. Além de estudar, na maior parte dos casos trabalhar e auxiliar nos serviços domésticos, também estão dentre as maiores vítimas dos casos de abuso sexual, que em seus 80% são cometidos por seus próprios pais, tios e primos.
No tempo de pandemia, com o isolamento social e com absolutamente nenhuma política de combate à violência por parte do governo Bolsonaro e também dos governos estaduais, o problema de violência se tornou ainda maior. As jovens que em condições “normais” frequentavam a escola em boa parte do seu dia, estão sendo obrigadas a ficar em casa convivendo com seus agressores, o que tende aumentar os casos de abuso. Só para citar um exemplo, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, a cada 15 minutos uma menina de 13 anos é estuprada no Brasil, sendo que em 76% dos casos o agressor era um conhecido da vítima, na sua maioria pais e padrastos. E a coisa só piora, por conta do aumento do número de estupros, haverá um consequente aumento no número de abortos clandestinos, que vem matando diariamente mulheres pobres e especialmente negras.
Em relação ao direito à quarentena, esse outro direito também foi negado a muitas mulheres. Pelo fato das mulheres jovens trabalhadoras, especificamente as negras, estarem nos piores postos de trabalho que os ataques do governo na pandemia são mais agressivos. Setores como o telemarketing que é composto em sua maioria por mulheres negras e LGBT´s nunca realizaram nenhum tipo de quarentena! As empresas continuam funcionando normalmente colocando em risco a vida dessas mulheres!
O que defendemos ?
Devemos exigir do governo o direito ao isolamento social com renda, emprego garantido, leito e sem violência contra as mulheres. Exigir condições para que as mulheres vítimas de violência e seus filhos consigam se afastar dos seus agressores, garantindo habitação e abrigos temporários onde seja preservado o distanciamento social até que um lar definitivo seja providenciado, como também um subsídio financeiro que permita condições dignas de vida. Também é preciso fortalecer e ampliar os mecanismos de atendimento a vítimas de violência doméstica como as delegacias 24h, os centros de saúde e a assistência psicossocial. Mantendo os centros de referência ao combate a violência sexual abertos.
Além de tudo isso, mudar completamente o ambiente escolar e tornar esse espaço, um ambiente seguro para as jovens, livre de opressões, mas muito mais que tudo isso! Transformar a escola radicalmente! Em um espaço que sirva para os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras e consequentemente o desenvolvimento de toda sociedade! Uma escola socialista em um mundo socialista! Precisamos entender que no sistema capitalista que nós vivemos os direitos das mulheres e homens trabalhadores vão ser constantemente atacados. Faz parte da lógica do sistema explorar e utilizar da opressão para explorar ainda mais a vida das mulheres e homens trabalhadores. Os grandes empresários, inclusive do setor educacional, não têm interesse nenhum de garantir nossos direitos, na realidade lucram com a nossa miséria. No capitalismo a conquista por nossos direitos se torna cada dia mais impossível. Só em um mundo socialista, que sirva os interesses dos trabalhadores que nossos direitos poderão ser realizados na sua magnitude.
Para fazer tudo isso de forma completa e suficiente, a única saída é se organizar e lutar dentro das suas escolas, universidades, locais de trabalho etc. Construir dentro desses espaços comitês de mulheres para lutar, de auxílio e denúncia para vítimas de abuso. A realidade atual nos impede de construir isso no espaço físico escolar, mas não nos impede de formar esses grupos online! Realizar campanhas de conscientização, discussões políticas, denúncias e etc. Estudantes aliados com professores para combater os ataques machistas! E para mudar tudo isso, precisamos também nos organizar em organizações revolucionárias! E por isso chamamos todos que tiverem esse interesse a conhecer e vir se organizar com a gente no movimento Rebeldia!