Rebeldia e PSTU no ato 7S no Rio
Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ

Bolsonaro e o bolsonarismo foram às ruas defender a pauta da ruptura institucional. Aqui no Rio ocuparam algumas quadras da praia de Copacabana. De fato, foi aquém das expectativas, dado o empenho na sua organização. Mas demostrou que base social, dinheiro para movê-la e disposição para usá-la. O bolsonarismo demonstra, mais uma vez, que sua disputa não será somente nos marcos institucionais, como a direita tradicional está acostumada a fazer. Demonstra que irá disputar as ruas com os movimentos sociais, os sindicatos e partidos da “esquerda”.

E foi justamente neste campo que as coisas sofreram uma inversão. Não é de hoje a estratégia do PT e do setor majoritário do PSOL – apostar no desgaste de Bolsonaro e fazer uma frente ampla com partidos que historicamente defendem os interesses dos ricos e poderosos para derrota-lo no fim de 2022. O pronunciamento oficial de Lula, na noite do dia 6/9, deixou bem nítida esta estratégia. Lula criticou a ausência de medidas de Bolsonaro frente a gravíssima crise social e econômica – o que é certo – mas sua ênfase é de que Bolsonaro é um governo que divide. E que um novo governo do PT seria um governo que uniria todos – empresariado, banqueiros, ruralistas e classe trabalhadora. Em nenhum momento de sua fala Lula colocou a necessidade de colocar abaixo o governo Bolsonaro o mais rapidamente possível. Muito menos fez qualquer referência aos atos da Frente Fora Bolsonaro que seriam realizados no dia seguinte. Esta política, que de uma maneira geral já é errada, porque joga nos limites de uma institucionalidade formada justamente para atacar os trabalhadores e os setores oprimidos, se mostra ainda mais equivocado quando o outro lado já demonstrou que não pretende cumprir estas regras.

Neste sentido, a atitude de Freixo, que foi construído e ainda é visto como uma das principais vozes “de esquerda” no Rio, foi criminosa. Seu insistente chamado a que os trabalhadores e a juventude não saíssem às ruas, seguido do pouco empenho de divulgação do PT e do aparato parlamentar do PSOL, levaram a que uma parte expressiva do ativismo ficasse em casa. Permitiu que o ato bolsonarista fosse numericamente superior justamente onde a classe trabalhadora e seus aliados podem ser mais fortes – na ação direta. Ao desconvocar os atos contra o governo, Freixo e esses setores, na prática, contribuíram para o fortalecimento de Bolsonaro.

Mesmo com todo o boicote, o ato da Uruguaiana foi o maior Grito dos Excluídos desde 2013, o que mostra a disposição do ativismo em lutar contra a sanha golpista de Bolsonaro.

Além disso, o discurso pacifista e amedrontado, de evitar violência “venha de onde vier”, serviu como escusa para esconder um debate central: diante da provocação cada vez maior da extrema direita, não podemos nos acovardar ou recuar, mas sim discutir sobre a necessária autodefesa do movimento.

Estes argumentos demonstram incompreensão ou desculpa de ocasião justamente daquele que mais tem alardeado o caráter fascista do governo brasileiro. Freixo tem usado e abusado da afirmação que já estamos sob o fascismo para justificar a necessidade de uma frente amplíssima para derrotar este mesmo fascismo nas eleições. Nunca, na história da humanidade, o fascismo foi impedido de progredir ao perder uma eleição. Todas as experiências indicam que para derrotar o fascismo é necessário povo na rua e disposição militante para enfrentá-lo do jeito que for preciso. O “fique em casa” e vote, chamado por Freixo, é o caminho mais curto e certo para a derrota.

Frente única para lutar e autodefesa do movimento: eis as tarefas.

Neste momento, na imprensa burguesa, a discussão é sobre como as Instituições da democracia burguesa irão reagir às provocações de Bolsonaro. Por outro lado, alimenta-se a expectativa que o processo de impeachment possa ser “destravado”.

Para nós do Pstu, os atos deste 7 de Setembro reforçaram ainda mais as tarefas que temos na próxima etapa. É preciso apostar, com tudo, no crescimento do “Fora Bolsonaro” das ruas. As grandes organizações – partidos, Sindicatos, organizações da juventude – têm a obrigação de construir um ato, o mais unitário e amplo possível que seja uma responda categórica à mobilização bolsonarista. É necessário definir uma nova data, o quanto antes e fazer uma ampla agitação e divulgação. Construir comitês democráticos, em cada bairro, em cada Sindicato, com panfletagens, colagens, carros-som, de forma a realizar um ato que supere em muito os já realizados neste ano. Uma resposta que deixe claro: a rua é nossa ! Vocês não nos intimidam!. É preciso aprender com as mobilizações que percorreram a América latina nos últimos anos, especialmente Chile e Colômbia. Os trabalhadores e a juventude organizaram sua defesa para enfrentar os ataques da extrema direita e para defender o direito dos trabalhadores e do povo de se manifestar

Além disto, as grandes Centrais precisam assumir o seu papel e organizar a classe trabalhadora, nos seus locais de trabalho, a fim de realizarmos uma grande greve geral que, independente da vontade do Congresso ou do Centrão, coloque Bolsonaro pra fora, na marra. É nesse tipo de ação que, sim, defendemos a mais ampla unidade com todos aqueles que estejam dispostos a enfrentar o bolsonarismo.

É preciso construir um polo socialista e revolucionário.

A gravidade da situação que vivemos hoje para além das quase 600 mil mortes da pandemia – pessoas se alimentando de restos, de lixo, milhares vivendo nas ruas, desemprego, falta de perspectiva, crise hídrica, Pantanal e Amazônia em chamas – deixam claro que as saídas não são fáceis e muito menos poderão ser construídas em unidade com aqueles que estão ganhando com esta crise.

A atual polarização política, por um lado, e o aprofundamento da adaptação de boa parte da esquerda – que só olha para as próximas eleições – por outro, nos coloca a necessidade de mais uma tarefa entre aqueles que realmente enxergam que é o sistema capitalista que está por trás da barbárie que vivemos hoje. Que nossa tarefa não se limita a derrotar Bolsonaro. Que é necessário destruir este sistema. E que esta tarefa se constrói deste já. Por isto, neste momento, há uma série de organizações e ativistas que estão debatendo a construção de um pólo, de uma saída distinta. Um polo, que defenda um programa socialista e revolucionário para o país, mas que também impulsione desde já as mobilizações e a autodefesa do movimento como tarefas fundamentais.

Te chamamos a conhecer o texto do manifesto inicial, que ainda está em construção, e divulgá-lo.