Redação

O discurso de Lula na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC foi o lançamento de sua candidatura para 2022. O que o ex-presidente aponta é a reedição de uma velha receitaque já vimos no que deu: uma frente ampla com a direita e um governo de colaboração de classes.

Mais do que isso, em piores circunstâncias, vai ainda mais à direita, propondo-se a ser um governo de “união nacional”, ou de unir toda a burguesia (e as demais classes atrás dela) em torno de um só projeto: salvá-la e ao seu sistema da crise, o que se faz jogando-a nas costas da classe trabalhadora. “Vejo muita gente falar em frente ampla, com PCdoB, PT, PSOL, PSB… É uma frente de esquerda, não tem nada de ampla. Isso a gente faz desde 1989; frente ampla é se a gente tiver a capacidade de conversar com outras forças que não estão no espectro da esquerda“, discursou.

Nesse mesmo sentido, Lula reivindicou seu vice, o então empresário da Coteminas, José Alencar. “Quando eu fui candidato em 2002 tive como vice o companheiro Zé Alencar, que era do MDB, depois PL. Foi a primeira vez que se fez uma aliança entre capital e trabalho e, sinceramente, acho que foi o momento mais promissor da história do país“, disse.

O ex-presidente se coloca, assim, à disposição da burguesia para, uma vez no governo, seguir aplicando o seu programa. Quer dizer, dar continuidade ao processo de recolonização do Brasil, cuja marcha seguiu nos governos FHC, do PT, Temer e agora o fim de feira com Bolsonaro e Paulo Guedes. Por isso que reivindica Biden e cogita ter como vice a dona da Magazine Luíza, Luiza Trajano, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), o ex-ministro do governo Bolsonaro, general Santos Cruz, ou qualquer expoente do andar de cima.

Quem ganha com essa política?

Um governo de colaboração de classes é um governo para a burguesia, que engana os trabalhadores, como mostraram os 14 anos de governo do PT. Mas que serve aos banqueiros que tiveram lucros recordes, ao agronegócio e aos grandes empresários e multinacionais.

A conjuntura internacional de crescimento econômico e alta das commodities permitiu a Lula fazer poucas e pequenas concessões, migalhas perto do que ganhou a classe dominante. Não mudou um centímetro dos problemas estruturais do Brasil, pelo contrário, a desigualdade se manteve. O país que se gabava de ser a 8ª economia do mundo continuava a ter mais da metade de seu povo sem sequer saneamento básico.

O projeto requentado por Lula, porém, se dá agora num momento totalmente diferente, em que a crise é ainda maior, potencializada pela crise capitalista mundial e pela pandemia, sem espaço até para as migalhas. Pelo contrário, a burguesia e o imperialismo exigem um grau de exploração da classe e de entrega do Brasil muito superior.

Se a primeira tarefa colocada para a classe trabalhadora é botar para fora Bolsonaro, e para isso devemos fazer unidade de ação com todos que estiverem dispostos, isso não pode ser confundido com abrir mão de um projeto da classe. Mesmo para fazer unidade de ação com setores da burguesia para afastar Bolsonaro e suas ameaças autoritárias, como fizemos nas Diretas Já, precisamos da classe trabalhadora organizada de forma independente, ainda mais quando se trata de apresentar um projeto de Estado e de governo.

Alternativa revolucionária e socialista

É preciso construir um projeto da classe trabalhadora para o Brasil. Uma alternativa diferente da levantada pelo PT e pela maioria do PSOL, que defendem um projeto capitalista nos marcos da recolonização do país. Precisamos de um programa que garanta pleno emprego, saúde e educação pública e gratuita, saneamento básico para todos e moradia, que revogue todas reformas neoliberais e privatizações. Assim como um país sem racismo, que acabe com o encarceramento em massa e o genocídio da juventude negra, com o machismo e a LGBTfobia. Para isso, é preciso mudar o sistema. O Brasil precisa de um governo socialista, no qual os trabalhadores governem contra a burguesia, através de conselhos populares.

PSOL e o barco furado da conciliação

A entrada de Lula no jogo eleitoral vem provocando uma forte pressão nos setores da direção do PSOL para embarcarem na frente ampla do PT. O deputado federal Marcelo Freixo é um dos mais ardorosos defensores do apoio ao PT já no primeiro turno, num acordo em que teria seu nome ao Governo do Rio, de preferência numa “frente amplíssima”. O embarque oficial de Boulos e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) como corrente interna do PSOL também fortalecem esse bloco.

É mais um passo que reforça a vocação de um partido eleitoral e nos limites da ordem estabelecida, apontando para a conformação de um governo de colaboração de classes junto com o PT e setores da burguesia. A experiência do Podemos, na Espanha, formando governo com o PSOE, e do Bloco de Esquerda, em Portugal, formando a Geringonça, governando com o PS, mostram que esse tipo de governo serve apenas para manter o status quo capitalista, enfraquecer e desmoralizar a classe trabalhadora.