Américo Novaes é um dos principais dirigentes do Conselho da ocupação Sonho Real. Ele foi entrevistado no domingo, dia 20, pouco após deixar a prisão, onde esteve por quatro dias.Quais foram os passos iniciais da ocupação e como você se tornou um dos coordenadores?
Américo Vi a necessidade de tentar unir as três partes em uma só área e me dispus a ajudar, primeiro criando um conselho, pra executar os encaminhamentos de forma coletiva, pois, como se fazia, não abria espaço pra ninguém e enfraquecia o movimento.
O que o movimento propõe agora e qual é a expectativa?
Américo Estivemos várias vezes com o prefeito, mostrando que o problema era grave. O governador nos recebeu em 2004 e disse que não tinha nenhum interesse de tirar as famílias. Acreditávamos que a polícia não iria entrar, porque era a palavra de um governador. Ele não manteve a palavra! Queremos a desapropriação, já que a área nunca cumpriu uma função social, não se pagava impostos, estava abandonada. Hoje está habitada, tem ruas, muitas crianças já nasceram ali. Estava se tornando um sonho real.
Duas mortes, feridos e prisões. Quais os responsáveis?
Américo O tempo todo alertávamos as autoridades sobre o que poderia acontecer, uma vez que estávamos determinados a não sair. É lamentável o que aconteceu! As autoridades lavaram as mãos, permitindo que a polícia entrasse, acontecendo uma tragédia, com sangue derramado.
O governo Lula tem responsabilidade pela situação ter chegado a esse ponto?
Américo Essa resposta é muito fácil, porque não é só em Goiânia que está acontecendo isso. Esse problema de reforma agrária, sem-teto, desemprego vai se intensificando em todo o Brasil. Está comprovado que o governo Lula não tem feito muita coisa para as pessoas realmente carentes. Lula não tem cumprido com tudo que defendeu em seus anos de militância, que envolveu sonhos de trabalhadores que acreditavam que pudesse haver mudança. É claro que ele tem culpa direta. É um dos principais responsáveis também por essa situação em Goiânia, uma vez que teve conhecimento quase 30 dias antes e nada fez.
No que você pensava nesses dias na prisão?
Américo A prisão começou já há 15 dias, quando tivemos que fazer barricadas. Fiquei praticamente confinado, vigiado por P2s (policiais infiltrados). Eles entraram às 9h e às 9h30 já me acharam e prenderam. É uma experiência horrível. Você não tem condições de fazer nada. Pude ver o sofrimento dos presos. Muitos estão lá por causa de uma galinha e quem não paga imposto 30 anos vive solto por aí.
Suas considerações finais…
Américo – Também ficamos assustados com a concentração de poder contra o povo. A mídia totalmente envolvida com as autoridades. O Judiciário endurecendo pra cumprir a lei. Quando a causa é pro Chico, a Justiça é cega. Quando é para o Francisco, a coisa muda. A gente vê os poderes se unindo aos empresários, contra o trabalhador! Quando o povo vai entender que precisa se unir?
Post author Por Gibran Jordão, da Direção do PSTU de Goiânia
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