Tácito Chimato
A premissa da música “Ainda”, “os maconheiros mais famosos do Brasil”, provavelmente seguirá válida ao longo de muitas e muitas gerações. Afinal, poucos grupos e artistas (talvez Bezerra da Silva), fez da cannabis um assunto tão onipresente em sua arte quanto o Planet Hemp.
Do início demolidor em 1993 sob o grito de Legalize Já, à prisão e julgamento arbitrário narrados na música “12 com dezoito” do disco “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça” de 2000; o Planet fez muitas histórias e cabeças por ao menos 9 anos. Mas após um longo processo de um juiz do DF (de 1997 a 2000) – juiz este condenado em 2013 por aceitar propina para conceder liberdade provisória para um traficante – levando à prisão dos membros e proibição de 13 músicas do grupo na época, a relação entre os integrantes chegou ao ponto de máximo de desgaste.
A situação tornou o nome “Planet Hemp”, ao mesmo tempo uma declaração de guerra a favor da legalização das drogas (e por isso mesmo, um sucesso na boca da juventude), e um peso grande demais para os integrantes do grupo, que viam suas oportunidades sendo minadas, enquanto seus contemporâneos se consolidavam. Marcelo D2, em entrevista ao Flow Podcast, contou: “A gente olhava pros lados e todo mundo se dando bem. Raimundos ganhando disco de platina e indo pro Faustão, Skank na novela, e a gente sendo preso, sem conseguir ver família, torrando tudo que a gente ganhava com advogado. Cada um foi fazendo o seu solo mesmo e quando começou a render mais que a banda, a gente resolveu parar”.
Por isso mesmo, quando o Planet acabou em 2001, sempre ficou aquele gosto de quero mais. Como fã, e certamente muito influenciado por sua música, lembro de estar em Mariana, no coração das Minas Gerais, reunido em êxtase com amigos quando vimos que o grupo anunciou uma reunião excepcional por conta do aniversário do primeiro disco “Usuário” em 2012, e passaria pelo Mineirinho em Belo Horizonte para uma apresentação de toda sua carreira.
Eu e duas amigas dividimos uma carona e chegamos na mais pura alegria, até passar pelas revistas. Foram ao menos três, rígidas, feitas por policiais uniformizados para o choque. Ao olhar para os lados, jovens pretos, que também iam ver o show, tiravam as camisas e tênis para entrar.
Não havia cadeiras na parte da arquibancada para o público: todas estavam ocupadas pela polícia, enquanto o público se apertava na parte do campo. Porém, na primeira nota e o grito de D2: “Primeiro ato!” chamando “Não Compre, Plante!”, certamente o responsável por aquela operação bizarra largou o ponto. O público surtou em um dos maiores moshs da minha vida, porque ninguém ali presente tinha opção fora entrar na roda ou ficar parado ao lado da polícia. Sem dúvida, a primeira opção ganhou.
Nove anos depois desse evento e de passarem a década se reunindo em turnês ocasionais, BNegão, um dos vocalistas do Planet junto com D2, revelou em entrevista que não só os shows seguiriam, como finalmente os integrantes tinham chegado no sonhado consenso sobre composições para um disco novo. E finalmente, em 2022, sai o disco “Jardineiros”. Aclamado pelos fãs, o disco retoma velhas parcerias, consolida novas e retoma o som eclético com as letras de denúncia. Dado o tempo fechado para todo o lançamento, porém, algumas músicas ficaram de fora. E esse ano, eles relançaram o disco com o trabalho na íntegra – o “Jardineiros: A colheita”, que será tratado a seguir.
Faixa por faixa
“Quando o instrumento do medo não funciona, a gente adquire um poder inimaginável”
A primeira música “Não vamos desistir” abre com D2 reivindicando a história tão comum de quem foi cria do underground e carrega em si lições de ir atrás do próprio corre sozinho: “Eu tive sorte nessa vida, a rua e o skate/Sempre quis o mundo todo, nada mata a minha sede/Eu tenho sede de viver, nego, tu tá ligado?/Sede de viver, nego”, para emendar em uma participação do ex-integrante Black Alien, que também faz questão de pontuar o que vem por aí: “Sem rondas ostensivas, fobias a nos guiar/Sem lobby, fã clube, jabá e voto popular/Sem dó, ré, mi, fá e sol nesse dia lindo pra mim/É rap, rock ‘n roll, Planet Hemp até o fim”.
“Marcelo Yuka”, que abre a versão lançada ano passado, é feita somente de uma gravação da voz do próprio Marcelo, ex-integrante do Rappa e figura seminal na música carioca, que faleceu aos 53 anos. É dele a frase “Quando o instrumento do medo não funciona, a gente adquire um poder inimaginável”, que serve como uma intro para a canção “Distopia”, com participação de Criolo. Lotada de referências, a música passa por homenagens aos grupos Picassos Falsos, Cólera e o filme Super Fly, icônico nos anos 1970 que narra as desventuras de um traficante para sair da vida de crimes. Afiada, a letra segue o tom de protesto, mas diferente dos anos 1990, tem a indignação de quem já está nessa há muito tempo: “Não imaginei que fosse assim/Pudesse ficar assim/Povo amando político/Idolatrando político”.
“Taca Fogo”, lançada às vésperas do segundo turno do ano passado, trás D2 alternando entre a banda tocando e uma base eletrônica, deixando a mensagem com o peso justo que merece: “Vivem em seus condomínios/Malditos Minions/Fazendo arminha com a mão/Tem coisa mais cafona/Rico roubando em nome de Deus cristão?”. A música também traz a história da banda: “Olho pra minha coroa/O sorriso dela me fez acreditar,/Aquele telefonema quando eu tava preso, pra eu não parar de lutar”
“Puxa Fumo”, “Nunca tenha medo” e “Jardineiro” emendam a primeira sequência musical mais chapada, com os músicos variando entre rock, rap e ragga nas três canções. “Puxa Fumo” critica o moralismo em torno da maconha: “O coxinha acha que me xinga/ Me chama: Maconheiro sem vergonha/Botam seus medos, preconceitos/Traumas em cima da maconha”. “Nunca tenha medo” presta suas homenagens a Chico Science, Sabotage, Zumbi, terminando com a participação internacional de Posdnuos, MC do lendário grupo De La Soul. “Jardineiro” fala do cultivo da cannabis e critica o discurso reacionário em torno da planta: “Mentes criminosas doutrinam mentes adormecidas/Pra seguir demonizando a cannabis sativa/Essa bendita planta/O plano é baseado/No medo/E na ignorância/Alheia.”
“Fim do Fim” retoma o hardcore do início da banda, com BNegão à frente do vocal, enquanto “O Ritmo e a Raiva” relembra a história da banda e a curta carreira de Skunk, fundador do grupo junto com D2 e vítima da AIDS em 1994. Junto com D2, Skunk foi o grande compositor do primeiro disco “Usuário”, mas nunca chegou a viver os frutos do sucesso. Black Alien fecha a música em outra participação: “Perdemo o Skunk, o super herói/Entrou B Negão, Gustavo Niterói/Tocando o terror, fogo no parquinho/E a concorrência corrói, corrói/De volta ao ano de 92/O Skunk apresenta o Marcelo D2/Aí fomos presos cinco anos depois/Perante o juiz foi o que a gente depôs”.
“Meu Barrio” tem participação de Trueno, fenômeno do rap argentino, e “Salve Kalunga” repete a fórmula de “Fim do “Fim”, mas também citando a cultura do skate, “um fundamento da cena”, como gritado por BNegão na música com pouco mais de 1 minuto. “Eles Sentem Também” já tem uma pegada bem mais leve, com bases de MPB.
A sequência das quatro músicas seguintes volta ao tema da maconha, mas partindo de experiências distintas. Em “Ainda”, Marcelo D2 reivindica seu espaço como “Aquele maconheiro ainda”, e o papel do Planet como linha de frente na discussão sobre legalização no Brasil, com uma base de boombap da dupla Tropikillaz – no qual um dos DJ´s, Zé Gonzales, também é parceiro de longa data do grupo. “Planeta Maconha” é uma sequência de vinhetas sobre notícias da extinta MTV sobre o lançamento do disco “Usuário”. “Onda Forte”, com um remix do famoso refrão da MC Carol, fala sobre estar chapado; com um dos versos mais belos do disco: “Borboletas no espaço/Águas marinhas no céu/E aquele plim na cabeça.” E “Remedinho” fala sobre a hipocrisia do discurso da guerra às drogas: “Remedinho pode, cocaína não/Cervejinha pode, bagulhinho não”.
O disco ainda fecha com “Veias Abertas”, “Ninguém Segura a Gente” e “Pra Ver as Cores do Mundo”. “Ninguém Segura…” é a versão 100% orgânica de “Taca Fogo”, com D2 rimando em cima da banda tocando hardcore. “Pra ver as Cores…” retoma a clássica junção de samba com rap, uma das marcas registradas do grupo. Mas das três, “Veias Abertas” se destaca pela lírica.
Com uma base pesada, a banda retoma a história do Brasil para culminar na guerra às drogas. Marcelo D2 no refrão: “Ouro manchado de sangue/Não tem riqueza inocente/O passado deixaram mudo?/Ou surdo é o presente?/Ouro manchado de sangue/É o terror do continente/O passado deixaram mudo?/Ou surdo é o presente?”. BNegão emenda para a conclusão novamente de D2 na sequência: “Assassinos, vampiros/Brasil agro-cassino/Querem que essa porra seja o nosso destino/O império não dorme/O império não para/24 barra 7/Brasil com Z/Em larga escala/A desculpa deles são as drogas/Mas a guerra é contra o povo/Que segue firme e forte/E se cai/Cai e levanta de novo”.
“Ninguém segura a gente!”: A luta contra a guerra às drogas hoje e o pioneirismo do Planet Hemp
Do último lançamento de inéditas – “A Invasão do Sagaz…”, em 2000 – até o “Jardineiros” (2022), pouco mais de duas décadas se passaram. Isso não se reflete somente na postura da banda em relação as temáticas exploradas no disco, mas, como se destaca na primeira audição, na evolução monumental do Planet Hemp em se tornar uma fábrica de talentos para a música brasileira.
Após o fim; Marcelo D2 tornou-se um dos MC´s mais populares do país, consolidando a junção de samba com rap nos anos 2000, e hoje é um artista multimídia, assumindo inclusive a estética nos videoclipes de “Jardineiros”, com grande apoio de sua companheira, a diretora cinematográfica Luiza Machado, que participou ativamente dos 3 últimos discos solos do cantor. BNegão atua em múltiplos projetos, sendo mais famoso atualmente pela parceira fundamental para o sucesso do grupo BaianaSystem.
Black Alien, após anos de luta contra a dependência em álcool e cocaína, lançou o elogiado “Abaixo de Zero: Hello Hell” em 2019 (Nota do editor: um dos melhores discos de rap já lançados no Brasil), chegando ao topo das paradas novamente aos 47 anos, um feito, ainda mais quando consideramos a média de idade dos artistas e do público do hip hop. Afora isso, os músicos que acompanham a banda também são parte seminal na cena carioca, com produções em conjunto com diversos artistas em estúdio; além do crescimento de parceiros que em algum momento passaram na banda: Zé Gonzales, da dupla Tropikillaz, hoje é um DJ internacionalmente renomado, assinando parcerias com grupos como o Gorillaz e a cantora Anitta; e Daniel Ganjamen é responsável por assinar a produção de discos como “Nó na Orelha”, de Criolo (2011); o disco póstumo de Sabotage (2016); e a música mais recente de Tom Zé, “Língua Brasileira” (2022).
Assim, é improvável falar em um álbum que não seja excelente levando em conta a constelação de estrelas envolvidas. Todo esse talento, porém, serve ao propósito de novamente levar a discussão sobre a legalização das drogas, principalmente da maconha, em um contexto de criação sob o governo Bolsonaro, onde o discurso moralista e reacionário ganhou particular força.
Como o Planet (e todos os artistas envolvidos no nome) batem na tecla há 30 anos, a guerra às drogas passa fundamentalmente ao extermínio da população pobre e preta. Essa discussão passa, para além do belicismo explícito no discurso da extrema-direita contra a “bandidagem”, por um estigma, onde ser “maconheiro” não está dissociado do contexto de raça e classe. Não sejamos hipócritas: há uma clara diferença em ser abordado, por exemplo, na Praça Roosvelt, point no centro da cidade de São Paulo, e na Brasilândia, onde prisões são forjadas (entre outros motivos) sob justificativa de tráfico de quantidades ridículas.
Por isso, o primeiro assunto do disco passa justamente por esse estigma do “maconheiro”, no qual o consumo da cannabis é posto como arma moral para um discurso reacionário, onde a maconha seria, entre um conjunto de outras características, o “mal”, a famigerada porta de entrada para um mundo de perdição, e ser “maconheiro” é ser praticamente um alienado. Para além da quantidade de estudos sobre o mal que o consumo causa ser bem menor que de outras drogas legalizadas, os exemplos práticos entre nossa classe ligados ao alcoolismo revelam muito bem com qual dependência é mais difícil de se conviver.
Isso não significa ser conivente ou apoiar o uso da maconha, mas sim refletir sobre qual o sentido, afinal, de não só uma substância ser não só liberada, mas ter seu uso largamente incentivado; enquanto outra serve de instrumento para a repressão do nosso povo – basta ver as escabrosas justificativas de muitos setores para a onda recente de “chacinas”, em um pretenso combate ao crime, onde o Estado ignora quem é e o que estavam fazendo os inocentes tombados nesse extermínio explícito.
Em paralelo a essa discussão, que sempre foi presente na obra do Planet, nota-se uma diferença da postura entre a primeira etapa do grupo (1993-2000), que abordou de forma inédita um assunto até hoje tabu na sociedade, e sofreu forte repressão apesar de todo seu talento, para o momento atual (2022), onde, ainda que insuficiente, essa discussão já avançou em muito dos anos 1990 para cá.
Como crias do underground carioca do fim do século passado, os próprios integrantes da banda sentiram na pele o estigma criado mesmo antes do sucesso, não só pela postura radical que eles assumiram, mas pelo fato de falarmos de uma sociedade onde o discurso moralista também tinha mais peso, e a banda, com poucos recursos às mãos fora suas vivências, queria gritar sobre um massacre real na realidade brasileira – partindo de tudo que envolvia a maconha.
Esse “tudo”, na década de 1990, em uma realidade com o acesso a informação bem mais restrito, envolvia muito mais estereótipos ligados ao ser “maconheiro”. Um bom exemplo citado ao longo das músicas sob esse contexto era o skate, que se hoje é motivo de orgulho por causa de atletas talentosos trazendo medalhas ao Brasil, até recentemente, era um esporte “marginal”, praticado em espaços “mal frequentados”, onde seus praticantes também lidavam com a repressão, pois ser skatista nos anos 1990 era praticamente um sinônimo para “maconheiro”.
Dessa forma, “Jardineiros: a colheita” celebra toda essa cultura – que passa não só pela pesada repressão em torno da maconha, mas também por um esporte, pelo hardcore, as casas de shows Garage e Circo Voador, o início do rap brasileiro, entre outros assuntos, – mas não do ponto mais de quem vive ela, como viviam os integrantes nessa época, mas de quem viveu e foi forjado musical e intelectualmente em um meio muito mais combativo que a atual música pop, e que hoje já tem muito mais estofo para lidar com um tema tão complexo de forma mais madura.
Nesse sentido, o segundo assunto abordado sobre a maconha no disco (ainda que não seja inédito na obra da banda), fala justamente sobre os outros usos da erva, principalmente sobre o medicinal. Se partimos do pressuposto que parte dessa postura moralista também se deve a falta de acesso a informação, sejamos justos: quem na década de 1990 tinha acesso a vídeos com tratamentos a base de canabidinol contra a epilepsia, dores musculares, enxaquecas permanentes, anorexia, entre tantos usos que podemos atualmente procurar na palma de nossas mãos?
Inegavelmente, o discurso medicinal da erva é mais presente na nossa sociedade. Por isso, é lógico esse assunto ser abordado em maior proporção no disco com mais seriedade para além do fumar para “relaxar” ou “chapar”, como minha geração, por exemplo, foi acostumada a responder sobre o consumo de maconha.
Porém, se é verdade, então, que muitos elementos ao longo do disco tenham passado por uma mudança de visão sobre o assunto tanto da nossa realidade quanto dos próprios compositores, que amadureçam ao longo de suas carreiras, é necessário manter a visão clara sobre a mensagem da obra: o inimigo em si não é somente o governo Bolsonaro ou outros, mas fundamentalmente o Estado.
Como repetido na canção “Veias Abertas”: as drogas, hoje, são a muleta utilizada para uma permanente política de massacre histórico da burguesia contra nossa classe, que vai do “ouro manchado de sangue” obtido no nefasto ciclo da mineração nos séculos XVII e XVIII em Mariana e Ouro Preto, até a “A desculpa deles são as drogas/Mas a guerra é contra o povo”. E na medida em que a situação de penúria, fome e desemprego não se resolve, a guerra aumenta enquanto se tiram nossos direitos, se utilizando da primeira muleta que pode alcançar como justificativa.
O exemplo mais recente desse ponto pode ser observado inclusive no final dessa semana com o voto bizarro do novo ministro do supremo Cristiano Zanin, indicado por Lula em mais uma jogada de negociatas a favor do apoio da extrema direita no Congresso e no Senado. Zanin tinha o voto decisivo nas suas mãos para tornar descriminado o porte de maconha até 60g no Brasil. Mas votou contra se utilizando inclusive da saúde dos usuários como justificativa para manter a lei como está.
Enquanto setores da dita “esquerda” tratam esse joguete com nossas vidas como um “lapso” de Lula, denunciamos corretamente que se trata de uma manobra para o governo petista ter apoio para sua agenda de ataque aos nossos direitos, como na onda de privatizações nos transportes metroferroviários Brasil afora, e no recente aprovado Arcabouço Fiscal, apoiado por parlamentares do PSOL. Dessa forma, não há de se alimentar esperanças em Lula/Alckmin para o fim do massacre permanente nas quebradas Brasil afora. Para eles, basta negociar a aprovação de medidas que agradem a burguesia, enquanto nosso povo paga com sangue.
A criminalização vai muito além do uso ou não. Ela é, como repetida constantemente na obra do Planet, um dispositivo de controle social, para impedir a revolta organizada de nossa classe contra as condições de vida na periferia e a ausência de políticas consequentes com a realidade. E sem levar em consideração esse contexto, ignora-se que sempre haverá uma justificativa dos poderosos outra contra quem nasce preto e pobre no Brasil para obter cada vez mais lucro sob as custas de nosso trabalho.
Assim, ser consequente contra a guerra às drogas é lutar também pelo fim desse Estado, que só serve para a manutenção dos interesses da burguesia custe o que custar ao nosso povo. Uma legalização que contemple de fato às necessidades da população e explore toda a potência que a cannabis sativa tem como uma planta só pode ser realizada de fato pelas mãos da classe trabalhadora, que além de acabar com o massacre a que está submetida, pode e deve discutir seu uso medicinal e recreativo da maneira madura e justa que o assunto merece. Não queremos só mais remédios, queremos remédios acessíveis a todos. Não se trata somente de fumar maconha: se trata de saber o que se consome ao ter acesso à maconha, e não viver exposto a uma permanente neurose por conta de uma “moral” que no final nos mata, e, portanto, nada interessa para nossa classe.
“Jardineiros: a colheita”, mais que um disco, deve ser escutado com os ouvidos atentos para a história que ele conta, tanto ao citar as questões abordadas aqui ao longo do texto, como quando conta a própria história de um grupo de protagonistas que, com nossas diferenças, está na linha de frente nessa luta há muito tempo e ainda tem muito para falar. Os cabelos brancos afinal fizeram bem ao Planet Hemp. A luta continua, e como o grupo grita, é até o fim, pelas nossas vidas. Ninguém segura a gente!