No último dia 15 de março completaram-se 10 anos da Revolução na Síria. Em comemoração à data, a LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional) organizou uma atividade online sobre o tema. Realizada principalmente na língua árabe, contou com a presença de muitos sírios refugiados no Brasil e em outros países. Abaixo, transcrevemos a fala de Fábio Bosco, militante da CSP-Conlutas e da LIT-QI.


 

É uma honra para nós estarmos aqui com vocês, conversando sobre o décimo aniversário da revolução Síria. A revolução Síria, junto com as demais revoluções árabes, são as mais importantes revoluções que tivemos em nosso século. As lições dessas revoluções são muito importantes para a libertação da classe trabalhadora do mundo.

A revolução síria tem 4 principais inimigos:

O primeiro inimigo é o regime sírio, ajudado por milícias apoiadas pelo governo iraniano e pelo exército russo. Eles definiram que vão se manter no poder por todos os meios necessários, mesmo que eles tenham que matar meio milhão de pessoas e expulsar metade da população de seus lares, destruir bairros e cidades. Esse é o principal inimigo da revolução síria, mas não era o único.

O segundo inimigo são os poderosos do mundo. EUA, União Europeia, ONU. Todos fazem críticas ao governo Assad, mas seu papel no combate à revolução foi muito importante. Eles evitaram que o Exército Livre da Síria tivesse acesso a armas que parassem os bombardeios aéreos que vinham do regime sírio e da Rússia. Eles fecharam as fronteiras para os refugiados. Uma viagem que demoraria 1 ou 2 horas de avião, era feita pelo mar mediterrâneo, o que levou à morte de milhares de refugiados. Esses poderosos utilizaram os principais órgãos de imprensa para mostrar para as pessoas que o que estava acontecendo na Síria era um conflito entre o regime sírio e o Estado Islâmico ou outras organizações salafitas. Eles esconderam a revolução operária e popular que estava em andamento.

O terceiro inimigo são os regimes árabes e a Turquia. Eles atuaram no sentido de converter a revolução que possuía um caráter nacional e democrático para uma guerra sectária entre grupos religiosos.

O quarto inimigo são os partidos stalinistas, maoístas, social-democratas, que fizeram um jogo sujo. Ofereceram ao regime de Assad uma capa de anti-imperialista e anti-sionista, mas que são todas mentiras.

Manifestação em Idlib, na Síria, em comemoração aso 10 anos da Revolução.

É importante mencionar também sobre as perspectivas para a Síria. O país está ocupado por milícias apoiadas pelo governo iraniano, pelos russos, norte-americanos, turcos e pelos sionistas em Golã até o momento. A economia está numa situação de morte. Bairros e cidades estão sendo destruídos. Pobreza por todo lado e metade da população está em situação de refúgio. E ainda temos uma ditadura no país. Somente uma nova revolução operária e popular pode oferecer uma solução para esses problemas. Somente uma nova revolução pode expulsar as forças estrangeiras, recuperar a economia, acabar com a pobreza, trazer os refugiados de volta e derrubar o regime criminoso que segue no poder.

Nós da CSP-Conlutas e da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional, temos certeza de que, cedo ou tarde, o povo sírio irá se levantar novamente e, superando as fraquezas da revolução, se Deus quiser, irá vencer. Também é importante mencionar algumas das fraquezas da revolução. A mais importante delas foi a falta de uma coordenação nacional que unifique todos os Tansiquiat (comitês de coordenação local) e os grupos do exército livre da Síria. O Itlaf Watani al Suri (o comitê nacional) se desvinculou da revolução e se aliou aos regimes árabes e à Turquia.

Se tivéssemos uma coordenação nacional composta pelos Tansiquiat e Exército Livre da Síria, haveria legitimidade para impedir as lutas sectárias e os discursos sectários. E parar com isso possibilitaria trazer os trabalhadores alauitas e cristãos, e também aumentar a solidariedade internacional em favor da revolução. Os Tansiquiat e o Exército Livre da Síria tinham a legitimidade para conversar com os Curdos e dizer a eles que seus direitos à autodeterminação e à sua nacionalidade estão garantidos. Dessa forma, o povo curdo poderia se unir à revolução e superar a política do PYD que isolou a revolução.

Os Tansiquiat e o Exército Livre da Síria tinham a legitimidade para conversar com os palestinos e dizer que a revolução síria poderia seguir a luta pela liberdade à Palestina. Continuar a luta pela recuperação das colinas de Golã ocupadas pelos sionistas. Também poderiam prover ajuda e liberdade aos palestinos para sua auto-organização e sua luta, por uma Palestina livre do rio ao mar. Uma outra fraqueza principal foi a falta de um partido revolucionário que lutasse por essas orientações e que seria um instrumento para a vitória da revolução.

Voltando às perspectivas, o povo sírio vai se levantar novamente e, se superar essas fraquezas, ele será capaz de libertar a Síria.