Redação
Thais Pasotti, de São Paulo
De acordo com o Global Burden of Disease Study, estudo realizado em 2010, os transtornos mentais são extremamente significativos na perda de saúde global, afinal, não existe saúde sem saúde mental. Dentro dessa perspectiva, um transtorno importante a ser observado é a depressão.
Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas são afetadas por essa condição, o que a torna imensamente comum. Atinge pessoas de qualquer faixa etária, classe socioeconômica, credo, identidade de gênero e etnia. No entanto, sabe-se que sua prevalência é maior entre as mulheres e jovens. As causas são multifatoriais. Pode ocorrer por traumas, fatores genéticos ou química cerebral e se apresenta com emoções e sentimentos de tristeza e culpa, perda do prazer e interesse nas atividades por períodos de tempo, isolamento, alterações de sono e apetite.
Esses sintomas podem causar grande impacto em todos os aspectos da vida, na interação social com família e amigos, no trabalho e estudos, nos cuidados com a saúde e pode atingir casos mais graves em que a pessoa fica disfuncional. Cabe ressaltar que é um transtorno que não raro está associado a suicídios.
Segundo a Organização Pan-americana de Saúde, em países de baixa e média renda, por volta de 76% a 85% das pessoas, que são acometidas com transtornos mentais não recebem tratamento, uma sociedade em sofrimento, sem o apoio necessário.
No Brasil
De acordo com dados do Ministério da Saúde, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência de depressão na rede de atenção primária de saúde é 10,4%, isoladamente ou associada a um transtorno físico.
“Hoje não estou bem, estou meio bagunçado, triste… Não sei explicar…” O preconceito, a falta de centros públicos e vagas para tratamento adequado levam esta frase parecer bobagem, mas por trás dela, há um paciente que precisa de ajuda especializada e o Brasil lidera o ranking de pessoas afastadas do trabalho por diagnóstico de depressão.
Muitas vezes, incapazes de buscar auxílio, as pessoas não deveriam ser julgadas. O estado brasileiro deveria estar em alerta contra essa situação supostamente invisível. Em São Paulo, portas são instaladas no metrô para impedir que pessoas tirem suas vidas nos trilhos daquelas pesadas máquinas que transportam cerca de 5 milhões de pessoas por dia. Dados de 2000, divulgados em uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, naquele ano, mostram que houve uma morte a cada 4 dias. Hoje, não há dados precisos.
Assim como precisamos de campanhas ostensivas para vacinação, prevenção ao HIV, combate ao machismo, racismo e LGBTIfobia, os locais públicos deveriam divulgar e orientar sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, bem como investir em políticas públicas – já previstas no SUS – com investimento para contratação e disponibilização de profissionais, ampliando a oferta de atendimento.
Porém, como faremos estes investimentos sem dinheiro?
O governo Lula este ano já bloqueou cerca de 3 bilhões de reais do orçamento público, os setores mais atingidos são saúde, educação e transporte, exatamente os que mais atingem a classe trabalhadores e a juventude desempregada.
A classe trabalhadora precisa encarar como parte de sua pauta a luta por um atendimento à saúde mental de qualidade e gratuito, estatal e sob o controle dos trabalhadores e dos usuários, pois enquanto isso não acontecer, a automedicação e o suicídio continuarão sendo trágicas saídas frente à desesperança, que é amplificada por um sistema social baseado na opressão e exploração capitalista.
Mas se você se identifica com os sintomas, não desista!
Em caso de sentir esses sintomas, busque ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Não é escolha, preguiça, falta de esforço ou fraqueza; é um transtorno reconhecido como uma questão que afeta a saúde, assim como outras doenças físicas, como diabetes ou problemas cardíacos, e da mesma maneira, possui tratamento especializado para amenizar ou até mesmo sanar os sintomas completamente.
Assim como não há dúvida sobre procurar ajuda médica quando se quebra um pé, não deve existir dúvida a respeito da busca por cuidados especializados ao sentir os sintomas da depressão.
Aqui no Brasil temos os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que atendem pessoas com sofrimento mental, incluindo relacionado ao uso de álcool e outras drogas, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial. É possível encontrar o mais próximo da sua residência, clique aqui.
Caso não se identifique com os profissionais, sinta-se livre para procurar outros. Às vezes, demanda tempo, até nos sentirmos confortáveis com alguém. O mesmo vale para o tratamento medicamentoso quando necessário. Pode ser um processo até encontrar uma medicação ou combinação que melhor atenda o quadro. Crie uma rede de apoio (pessoas com quem contar, desabafar, procurar em momentos de crise). Por fim, não se sinta culpado. Lembre-se: são milhões de humanos lutando diariamente com essa questão, você não está só.
O apelo fica para a desestigmatização da doença e dos portadores, para a busca da atenção governamental para a questão da depressão, enquanto um problema de saúde pública que exige medidas de intervenção em relação ao atendimento e acolhimento da população afetada e à democratização do acesso às informações.