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Redação
María Rivera, da direção do Movimento Internacional de Trabalhadores (MIT), candidata a uma vaga a Assembleia Constituinte do Chile, foi intimada a depor acusada perante a Justiça acusada de suposto crime de sedição imprópria. A denúncia foi apresentada pela oficialidade dos carabineiros (a polícia chilena) por María ter feito um chamado à tropa das forças repressivas para que parasse de massacrar o povo.
É preciso repudiar essa tentativa de intimidação feita pelos carabineiros e pela Justiça. Os carabineiros são hoje uma das instituições mais questionadas pelo povo chileno e não têm legitimidade alguma para adotar ações judiciais contra os ativistas sociais.
A Justiça chilena, por sua vez, está a serviço das famílias que são donas do país e dos capitalistas estrangeiros, por isso condena e persegue ativistas e deixa livres os assassinos dos carabineiros, das Forças Armadas e dos ricos corruptos que exploram os trabalhadores e afundam o povo na miséria e no contágio do COVID-19.
Quem é María Rivera
María é defensora dos direitos humanos e se dedicou a defender ativistas nas diferentes lutas sociais que ocorreram no Chile nas últimas duas décadas, como na Revolução dos Pinguins de 2006 e na luta estudantil de 2011. María Rivera também fez a denúncia contra a polícia civil e as forças especiais que aplicaram tortura.
Na atual explosão social do país, defendeu vários jovens presos pela polícia. María também fez a denúncia contra o presidente Sebastián Piñera por crimes de lesa-humanidade. Sua notável combatividade e coragem lhe renderam inúmeras ameaças de morte, em várias ocasiões, por grupos fascistas. Hoje ela é candidata numa lista popular à futura Assembleia Constituinte do país.
Perseguição aos ativistas
O ataque contra María surge no contexto de perseguição e prisão de ativistas que não aceitam baixar a cabeça e continuam lutando por verdadeiras transformações sociais. Em entrevista ao Opinião Socialista, María explicou a feroz repressão que se abateu no país depois que grandes mobilizações populares tomaram conta das ruas.
“A repressão do governo, desde a explosão social, que se iniciou no dia 18 de outubro de 2019, tem sido brutal. Já são mais de 40 mortos, muitos comprovadamente pelas mãos de militares e carabineros, outros em situações nunca esclarecidas. Há mais de 400 vítimas com traumas oculares, muitas delas chegaram a perder a visão em um olho e duas pessoas perderam a visão em ambos os olhos, fruto de disparos de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo lançadas no rosto. Além disso, há milhares de denúncias de tortura, estupros e agressões”, contou.
“Hoje, entre presos políticos e pessoas com restrição de liberdade, temos mais de duas mil pessoas. É impressionante como os promotores, orientados pelo governo, pedem penas de vários anos para pessoas que destruíram vidros de lojas; mas os policiais, que assassinaram, não são julgados e condenados”, disse.
Desde o início da revolução chilena, María e o MIT fizeram um apelo legítimo às tropas dos carabineiros e das Forças Armadas para não atacarem nem massacrarem seu próprio povo. Esse apelo a todas as tropas dos carabineiros e das Forças Armadas é reafirmado pela organização. “Não obedeçam a seus oficiais corruptos para massacrar seu próprio povo!”, diz nota do MIT.
Assembleia Constituinte
María sabe que a nova Assembleia Constituinte é cheia de armadilhas que vão impedir as profundas mudanças que o país precisa. “Pela história de nosso país e do mundo, sabemos que a burguesia, ainda que perca a maioria na futura Convenção Constitucional, não abrirá mão de sua riqueza e de seu modelo econômico”, explicou.
Sua candidatura defende que a maioria da riqueza produzida no país esteja a serviço de solucionar os problemas de saúde, educação, aposentadorias, moradia, que afetam a enorme maioria da população. Também defende o fim das atuais Forças Armadas e dos carabineiros e sua substituição pelo povo armado. Hoje, as Forças Armadas estão nas mãos de um punhado de milionários, que as utilizam para reprimir o povo.
“Lutamos para desenvolver a organização e a luta popular até que o povo trabalhador tenha condições de governar o país em seus organismos de classe, que ainda estão surgindo de forma muito embrionária. Queremos um Chile e um mundo socialistas. Um socialismo no qual a maioria dos trabalhadores e trabalhadoras tenha poder de decidir o que fazer com toda a riqueza que produzimos”, disse.
Diante das novas intimidações contra María, o MIT iniciou uma campanha nacional e internacional em sua defesa. “Não aceitaremos qualquer intimidação, não aceitaremos que ataquem nossa companheira, nossa organização e uma candidatura revolucionária!”, afirma a organização em nota.