Senadores trocam xingamentos e acusações e mostram toda a hipocrisia da política brasileira dos últimos 25 anosUm tremendo bate-boca com direito a trocas de ofensas e acusações. Esse foi o resultado da crise política que atinge o Senado e que se aprofunda a cada dia. Na tarde desse dia 3, os senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-presidente Fernando Collor de Melo (PTB-AL) protagonizaram uma verdadeira lavação de roupa de suja pública, que expôs de forma clara as incoerências e hipocrisia que dominam o Senado.

O bate-boca ocorreu logo no primeiro dia da volta do recesso dos parlamentares. Havia uma expectativa, alimentada pelo próprio governo, de que Sarney renunciaria para debelar a crise política que se afunda o Senado. No entanto, o presidente da Casa voltou do recesso e mandou avisar que ficaria justamente no lugar onde estava e que não se afastaria. Alinhou sua tropa de choque para uma contra-ofensiva aos setores que pedem sua saída e foi à guerra.

O senador Pedro Simon subiu então à tribuna e reiterou, de forma singela e cercada de elogios, seu pedido para que Sarney se afastasse do cargo. “Uma brilhante trajetória; não tem outra igual. Mas o presidente Sarney deveria entender que a renúncia dele à Presidência seria um grande ato. Se o presidente Sarney houver por bem renunciar à Presidência, tendo em vista a situação em que se encontra o Senado Federal, seria um grande gesto dele, que somará na sua biografia”, discursou o senador gaúcho.

Suas excelências rolam na lama
O aparte do senador Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado, ao discurso de Simon deu início ao festival de xingamentos. Calheiros, que renunciou ao seu último mandato para escapar de denúncias de corrupção, acusou seu colega de partido de “ter como esporte preferido” falar mal de Sarney nos últimos 35 anos. Renan Calheiros disse que Pedro Simon não gosta do atual presidente do Senado, pois queria ter ocupado a vaga de vice na chapa liderada por Tancredo à presidência em 1985.

Renan disse ainda que Pedro Simon havia insistido para que Sarney saísse candidato à presidência do Senado, em fevereiro último. Simon então se exaltou e partiu para o ataque ao seu colega de sigla. Arfando e com o dedo em riste, lembrou do apoio de Calheiros ao então presidente Collor. “Vossa excelência foi à China fazer acordo com o Collor. Agora eu estou falando! Na véspera do Collor ser cassado, Vossa Excelência largou o Collor. Lá pelas tantas, apareceu como ministro da Justiça do Fernando Henrique. Lá pelas tantas, largou o FHC. Agora é o homem de confiança do Lula” discursou exaltado.

Collor também veio em socorro a Sarney e se juntou a Renan para achincalhar Simon. “São palavras que não aceito sobre mim e minhas relações políticas. São palavras que eu quero que o senhor as engula e as digira como achar conveniente”. disse exaltado. O senador de Alagoas comparou ainda a situação de Sarney com a que viveu quando ocupou a presidência da República.

Por fim, um arfante e visivelmente enfurecido Collor fez uma ameaça a Pedro Simon. “Evite pronunciar meu nome nessa Casa porque na próxima vez que eu tiver que pronunciar o nome de vossa excelência nesta Casa gostaria de relembrar alguns fatos, alguns momentos, talvez extremamente incômodos para vossa excelência” disse ao senador do PMDB.

Senado em pé de guerra
O bate-boca foi de um notável didatismo. Uma verdadeira aula sobre a hipocrisia que domina a política e os grandes partidos. Collor e Lula, que em 1989 culparam Sarney pela situação caótica em que o país se encontrava naquele momento, hoje dão as mãos para defender o velho coronel do Maranhão.

Já o senador Pedro Simon, que posa de paladino da moralidade, se viu ameaçado com denúncias deixadas no ar por Collor, que parecia saber muito bem sobre o que insinuava. Além disso, Simon é antigo aliado da governadora tucana Yeda Crusis, cujo governo se afunda cada vez mais num mar de denúncias de corrupção.

O bate-boca mostra, sobretudo, o aprofundamento da crise política no Senado. Sarney, sem perspectiva de poder retomar sua vida política posteriormente, recusa-se a sair. Lula já não quer se envolver tão diretamente com o caso, mas mobiliza sua bancada para ajudar o senador. A situação de José Sarney, porém, se agrava a cada denúncia enquanto crescem as brigas entre os partidos.

O senado está em pé de guerra, mas no lugar dos mocinhos não há ninguém.

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