Há cerca de um mês, o segundo estado mais pobre do México vive uma revolta popular que começa a preocupar o recém eleito presidente Felipe Calderón. Todos os prédios públicos estão ocupados pelo Movimento que fundou a Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO).

Tudo começou com um protesto de professores em maio deste ano. Lutando por melhores salários, professores da região apresentaram sua pauta de reivindicações ao governo local, dirigido por Ulises Ruiz, membro do PRI (Partido Revolucionário Institucional).

Obstinado em aplacar a greve, Ruiz lançou uma violenta repressão para pôr fim aos protestos.

Em 22 de maio, os professores ocuparam o centro histórico da capital de Oaxaca e levantaram um acampamento no Zócalo, praça da cidade. O governo ordenou um desalojamento violentíssimo que resultou na prisão de dezenas de pessoas. Muitas ainda ficaram feridas.

A partir de então, outros trabalhadores, camponeses e estudantes tomaram parte das ações. Criaram a APPO, ocuparam os prédios, levantaram barricadas e passaram a exigir o renúncia de Ulises Ruiz.

De acordo com uma reportagem do jornal espanhol El País, “repartições da Direccón del Registro Público de la Propiedad de Oaxaca estão cercadas com um letreiro onde se lê ‘Fechado até a saída de URO [iniciais de Ulises Ruiz Ortiz]´. Numa situação similar estão a sede do Governo, a Secretaria de Finanças e todas as dependências do poder Executivo deste estado mexicano, o novo edifício do poder legislativo e do Tribunal Superior de Justiça. Praticamente todas as dependências do governo na cidade de Oaxaca, de 600 mil habitantes, estão fechadas ao público”.

Atualmente, estão reunidos na APPO, professores em greve, desempregados, grupos indígenas, sindicalistas e um agrupamento guerrilheiro. “A APPO começa a funcionar como governo, porque nos fatos há um vazio de poder“Defensor do poderosos
Ulises Ruiz foi advogado defensor de criadores de gado e latifundiários da região antes de chegar ao poder. Em 2004, ele assumiu o cargo derrotando seu opositor, Gabino Cué, ligado ao Partido da Revolução Democrática (PRD), por pequena margem de votos. As fraudes eleitorais são muito comuns no México. Por esse sistema, o PRI ficou mais de 70 anos à frente do governo federal.

Depois de Chiapas, palco da revolta Zapatista em 1994, Oaxaca é o estado mais miserável do México. A capital do estado, que também se chama Oaxaca, possui um dos maiores centros turísticos do país, com um rico casario colonial e igrejas. Porém, o dinheiro movimentado com esse “boom“ do turismo não foi revertido em melhorias para os trabalhadores e para a população mais pobre. Pelo contrário, o custo de vida aumentou, acompanhando o padrão do dólar ou do Euro dos turistas endinheirados que visitam a cidade.

Hoje as barricadas levantadas pela APPO fecharam o acesso ao centro histórico e o que mais se vê são as pichações que proclamam “território da APPO” ou “No hay gobierno”.

Um barril de pólvora
A dura repressão à greve dos professores foi o estopim da revolta. Mas, de fato, ela tem como causa as políticas neoliberais aplicadas durante décadas por governos federais do PRI e, mais recentemente, por Vicente Fox, do PAN.

A revolta se insere em um cenário político nacional cada vez mais polarizado. E só joga mais lenha na fogueira em um México dividido, que assiste a uma crescente escalada da tensão provocada pelos protestos contra as fraudes eleitorais que deram a vitória a Felipe Calderón contra Lopéz Obrador.

O movimento em Oaxaca segue pedindo a renúncia do governador do estado e a instalação de um governo provisório popular liderado pela APPO. Essa mobilização é mais uma demonstração de que, na América Latina, atualmente se apresentam duas alternativas. De um lado, a burguesia e seus partidos fortalecem as instituições de um Estado semicolonial, vendendo a farsa de que com as eleições burguesas se resolverão todos os problemas. E de outro, a alternativa das revoluções e das revoltas populares.