As Jornadas de Junho inauguraram um novo momento de lutas no Brasil. A explosão popular contagiou a classe trabalhadora, que entrou em cena em de julho e vai parar o país novamente no dia 30 de agosto. A juventude segue na luta, promovendo uma verdadeira onda de ocupações de Câmaras, reivindicando Passe Livre estudantil e estatização do transporte. As cidades de Belo Horizonte, Porto Alegre, São Luís, Belém, Maceió, Campinas, Recife e Rio de Janeiro tiveram suas Câmaras de Vereadores ocupadas. No Rio, os manifestantes ocuparam, também, a Assembléia Legislativa, protestando pelo “Fora Cabral”.
Em agosto, um novo ator entrará em cena: o movimento estudantil organizado. Com a volta às aulas, já há assembleias estudantis marcadas e as entidades (centros acadêmicos, grêmios e DCEs) têm pautado, em suas reuniões, a adesão aos protestos. O movimento estudantil brasileiro tem tradição e é sensível às grandes transformações sociais. Foi assim em 1968, na luta contra a ditadura; em 1984, pelas “Diretas, Já!”; e, em 1992, pelo “Fora Collor”. A entrada em cena do movimento estudantil pode potencializar ainda mais as mobilizações que vivemos, servindo como força social para curvar os governos e como faísca para os trabalhadores irem à luta. Agora, é fundamental refletir sobre que organização estudantil precisamos para atingir esses objetivos.
Unificar as lutas dispersas pelo país
Desde a ocupação da Câmara dos Vereadores de Belém, realizada no dia 5, a Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (ANEL) lançou uma Carta Aberta chamando a construção da jornada de agosto. Através da onda de ocupações de Câmaras, a possibilidade de conquistar o Passe Livre já está ao alcance de nossas mãos. Se fizermos disso uma só luta nacional em agosto, sem dúvida, estaremos mais fortes para alcançar uma vitória.
Seja pelo passe livre, para defender a meia-entrada, combater as opressões ou reivindicar melhorias nas condições de ensino, nossa luta deve sempre estar unificada nacionalmente. É fundamental, portanto, unir as entidades estudantis aos fóruns populares criados em junho, além de trocar experiências e construir ações unitárias nacionalmente. Além disso, unir a ousadia e radicalização da juventude com a força dos trabalhadores, que podem parar o país. Só a ANEL, hoje, pode cumprir esse papel.
 
A luta se faz na rua, com independência
 As lutas da juventude tiveram uma marca fundamental: deixaram os governos, todos eles, em uma enorme defensiva. Hoje, é o movimento que está pautando os debates na sociedade. A redução do aumento das tarifas, junto com as outras vitórias conquistadas, deixam claro que o caminho das ruas é o determinante para transformar a realidade, lutando com muita independência política e financeira.
A ANEL aposta nesse caminho! A luta contra a restrição da meia-entrada deixa isso muito claro. A presidente Dilma sancionou o Estatuto da Juventude, que ataca o direito à meia-entrada em eventos culturais, como cinema, shows e teatros, restringindo-a para 40% do total de ingressos de cada estabelecimento cultural. Enquanto nas ruas exigíamos mais, a UNE negociava com o governo federal a volta do monopólio das carteirinhas.
Esse exemplo deixa claro que para lutar por esse direito e tantos outros, é preciso ser oposição ao governo federal, ser independente. Aqueles que compõem e apoiam o governo, como é o caso da UNE e do PCdoB (que dirige a entidade há mais de 20 anos), jamais terão capacidade de ir até as últimas consequências. 
 
Uma “Assembleia Livre”  para nos organizar
 A ANEL foi fundada em 2009 no Congresso Nacional dos Estudantes, realizado no Rio de Janeiro. Expressando o processo de reorganização do movimento estudantil, 90% dos delegados levantaram seus crachás pela fundação da ANEL. Desde então, a entidade organiza nacionalmente as lutas estudantis e, com muita independência e democracia, se fortalece de Norte a Sul do país. Prova disso foi a realização de seu II Congresso em maio, quando reuniram-se mais de 1.800 estudantes e foi aprovado um Plano de Lutas que armou o movimento estudantil para junho, julho e agosto.
O movimento estudantil não precisa de uma “nova UNE”, não-burocrática ou não-governista, mas de uma entidade oposta a UNE. Mais do que uma fiel aliada a Dilma, Lula, Sarney ou Renan Calheiros, a UNE representa a velha política do movimento estudantil, tudo o que a juventude das Jornadas de Junho repudiou e atropelou nas ruas.
Desde o seu nome, ao programa e funcionamento, a ANEL representa o novo movimento estudantil. Como uma “assembleia permanente”, qualquer estudante pode se fazer representado, apresentando suas propostas e decidindo seus rumos. Tudo é decidido pela votação da maioria. A cada dois anos, é realizado um Congresso Nacional, que vota seu programa e plano de lutas, antecedido por um processo democrático de eleição de delegados. Entre os congressos, as assembleias nacionais e estaduais dão vida às resoluções congressuais, aprovam campanhas e iniciativas da entidade. São as assembleias que decidem quem irá compor as Comissões Executivas da ANEL, que dividem tarefas para concretizar, na realidade, tudo que foi aprovado. Em cada assembleia os membros podem ser revogados.
 
“Corra, camarada! O velho mundo está atrás de ti”
Essa frase das manifestações do maio de 1968, na França, nunca foi tão atual. Desde 2011, vimos uma onda de mobilizações no mundo inteiro, protagonizadas pela juventude. Uma nova geração foi às ruas, impulsionada pelos seus sonhos, lutando por seu direito ao futuro. No Brasil, a ANEL é o instrumento que essa geração indignada tem para atropelar os aparatos burocráticos e construir o novo. Repudiando as velhas formas, a ANEL é livre e quer construir um novo mundo. Com a responsabilidade e ousadia de ir até as últimas consequências, sabe que para a juventude ter liberdade, é preciso estar unida com os trabalhadores e ser firme no combate a todas as injustiças sociais do capitalismo.
 

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