Partido de Chávez sofre importantes derrotasEste 23 de novembro foi um dia de eleições regionais e municipais na Venezuela. Muitos defensores do presidente Hugo Chávez se esforçam para sustentar que o resultado das urnas representou uma vitória para o governo.

Mas apesar de seu partido, o PSUV, ter vencido em 17 estados, Chávez perdeu nas regiões mais povoadas e desenvolvidas da Venezuela, como os estados de Zulia, Miranda e Carabobo. Até mesmo a Prefeitura da capital, Caracas, passou para as mãos da oposição. Tais regiões são as mais ricas do país, pois concentram boa parte da indústria venezuelana.

Zulia, estado do noroeste da Venezuela, é onde se localiza o lago Maracaibo, responsável por 80% da produção de petróleo do país. Na cidade de Maracaibo, o governo perdeu as eleições para Manuel Rosales, ex-governador de Zulia, que ratificou o golpe de estado de abril de 2002. O golpista Rosales também foi candidato a presidente em 2006, contra Chávez.

O estado de Carabobo possui numerosas indústrias. Além disso, possui o segundo porto mercante de Venezuela (Porto Cabelo). Já o rico estado de Miranda, que engloba a grande Caracas, também representou uma dura derrota ao governo Chávez.

Diosdado Cabello, candidato chavista, foi derrotado pela oposição de direita. Diosdado era o vice-presidente de Chávez na época do golpe, em 2002. Ele tornou-se um símbolo da chamada “boliburguesia”, ou burguesia “bolivariana”, criada pelo chavismo a partir do controle do Estado.

Na Prefeitura Maior de Caracas, onde se coordena todo o Distrito Federal de Caracas, composto por quatro cidades, Aristóbulo Isturiz, histórico defensor de Chávez, foi derrotado pelo candidato da direita, Antonio Ledezma. O chavismo administrava a região por duas gestões sucessivas. Para piorar, o PSUV teve que amargar uma derrota num dos principais bairros populares de Caracas: o bairro de Petare, que sempre apoiou Chávez e desceu às ruas para defender seu governo do golpe, em 2002.

Derrota parcial
Embora tenha vencido na maioria dos estados e prefeituras, o fracasso do PSUV nas regiões mais ricas e povoadas do país representa uma derrota parcial de Chávez. O presidente jogou peso no processo eleitoral e tentou transformar as eleições em um plebiscito entre seu governo e a “oposição golpista”.

Assim, tentava voltar à carga com sua reforma constitucional para reativar uma medida de reeleição indefinida. Essa medida tem um conteúdo autoritário, porque buscava utilizar o aparato estatal para se perpetuar no poder. No final do ano passado, a tentativa de Chávez de mudar a Constituição foi derrotada em referendo nacional. No entanto, no último dia 1°, Chávez ordenou ao PSUV que reative uma emenda constitucional para incluir a reeleição indefinida.

Por outro lado, a derrota nos principais centros urbanos mostra que não bastam discursos sobre “socialismo do século 21”. Após 10 anos de chavismo, os trabalhadores e o povo venezuelano não obtiveram nenhuma conquista econômica ou social significativa. Pior ainda: nos últimos dois anos houve uma piora das condições de vida dos trabalhadores. Atualmente, o salário mínimo no país é de 799,23 bolívares fortes, valor insuficiente até para comprar uma cesta básica, calculada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em 802,50 bolívares fortes.
Neste período, a inflação não parou de crescer. O Índice de Preços ao Consumidor de Caracas (IPC) foi de 39% em um ano. A taxa de desemprego do país continua altíssima e o trabalho informal é uma realidade percebida nas ruas. A degradação social está provocando uma explosão da criminalidade. Caracas é hoje uma das cidades mais violentas do continente.

Quem vai pagar pela crise?
A situação econômica tende a piorar com a crise mundial. Mas o governo já disse como pretende enfrentá-la. Ramón Carrizález, vice-presidente venezuelano, definiu que o Orçamento de 2009 terá como linha principal a “austeridade”. “Todos os organismos e instituições do Estado deverão se apegar a esta medida de austeridade e poupança” para “enfrentar a crise mundial”, disse.

Em outras palavras, o governo venezuelano vai aplicar cortes de orçamento nas áreas sociais, liberar mais os preços e apertar os salários para manter as reservas em dólares do país.

A burguesia venezuelana está ganhando muito com a inflação e com a generosa política econômica do governo. Política generosa, como no recente plano de “Reimpulso Productivo”, cujo objetivo é aumentar ainda mais o lucro dos patrões. Chávez não nega sua aliança com a burguesia. Pelo contrário, orgulha-se dela. “A esta burguesia nacional sempre estaremos lhe lançando pontes para fazer uma grande aliança nacionalista e patriótica”, afirmou, conforme noticiado pelo portal Aporrea, em abril deste ano.

Mas os resultados das eleições indicam a crescente insatisfação com a continuidade da miséria do povo e o enriquecimento corrupto da boliburguesia e da alta burocracia.

No entanto, o desgaste acumulado pelo governo está sendo capitalizado pela oposição de direita. A não construção de um campo de oposição dos trabalhadores, contra o governo e a oposição de direita, deixa aberta a via para que as massas sejam ganhas por um projeto “renovado” da velha burguesia, que tenta capitalizar o desgaste do governo Chávez.

Os militantes da UST, da Liga Internacional dos Trabalhadores, defenderam o voto nulo nas eleições do dia 23, por entenderem que nem o chavismo nem a oposição representavam uma saída para os trabalhadores do país. A UST abriu uma única exceção, justamente no estado de Aragua, para apoiar as candidaturas de Luis Hernández, para a prefeitura do município de Zamora, e de Richard Gallardo, para a Assembléia dos Deputados. Dois dos três lutadores que foram assassinados covardemente neste dia 27.

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