Jean-Bertrand Aristide é um ex-sacerdote católico vinculado à Teologia da Libertação. Desde o início de sua vida política, quando dirigia paróquias nos subúrbios da capital Porto Príncipe, Aristide ganhou muito prestígio, se convertendo em umas das figuras mais destacadas da luta contra a ditadura dos Duvalier. Foi com base nesse prestígio que venceu as eleições de 1990. Mas sua figura inspirava profunda desconfiança no imperialismo norte-americano, que preparou e apoiou o golpe de Raoul Cedras.
Dois fatos levaram à mudança na política do imperialismo no país. Por um lado, como vimos, a própria dinâmica da situação haitiana tornava cada vez mais insustentável o governo de Cedras. Por outro, Aristide havia negociado com Bill Clinton, então presidente dos EUA, sua colaboração na implementação de um plano econômico de acordo com as prioridades do FMI. Aristide se transformou, então, em pivô central na implementação da política imperialista no país. Em 1994, quem ganhou as eleições foi René Preval, ex-vice de Aristide, que continuou sendo o homem forte do país. Em 2000, foram realizadas novas eleições e Aristide obteve 92% dos votos, em meio a denúncias de fraudes que partiram de toda a oposição.
Seu governo
O governo de Aristide começou a ficar cada vez mais isolado. Devido ao compromisso assumido com os EUA e o FMI, ele atuou contra os mesmos setores que haviam votado maciçamente nele nas duas eleições. A isto se somou também a crise econômica causada pela queda dos preços de alguns dos principais produtos de exportação do país, como café, tabaco e rum. Na medida em que crescia a crise interna, diminuía também o turismo, outra fonte importante da economia do país.
Depois de três anos de governo, Aristide perdeu quase todo seu apoio popular. Setores que antes o apoiavam passaram agora a fazer oposição a seu governo. Como expressão desse processo, em novembro de 2003, uma importante mobilização estudantil sacudiu o país e foi duramente reprimida pela polícia. Ao mesmo tempo, com o crescimento das acusações de fraude nas eleições, Aristide foi perdendo cada vez mais apoio de outras frações burguesas. Foi apenas uma questão de tempo para que estas também começassem a exigir sua renúncia.
Como resposta, Aristide tentou garantir seu controle direto sobre as forças repressivas, particularmente, a polícia, já que o Exército havia sido dissolvido pela ocupação imperialista em 1994. Mas na medida em que crescia a força militar da oposição, o que ficou bastante evidente foi o fato de que a polícia de Aristide deixou de defender as principais cidades e inclusive a capital, passando a negociar seu apoio com a oposição e seus grupos paramilitares. Isso explica a rapidez do avanço militar da oposição no país.
Finalmente, o único grupo que manteve pleno respaldo a Aristide foi o dos chimeres, uma organização político-militar com certa força e apoio popular na periferia de Porto Príncipe. Algumas informações indicam que esses grupos resistiram aos paramilitares da oposição (pelos menos dez mortes foram registradas nesses choques). Mas logo depois da derrubada e seqüestro de Aristide, eles passaram à clandestinidade e ainda não está claro o que farão.
A oposição civil e militar
A oposição civil a Aristide estava composta por um arco de distintas forças. Participavam dela, por exemplo, setores que haviam enfrentado Duvalier, como o partido social-democrata de Gerard Charles; os democrata-cristãos; a Convergência Democrática, encabeçada por empresários como André Apaid, de nacionalidade norte-americana e líder do Grupo dos 184, extremamente vinculado ao imperialismo. A política que os unia era a oposição aos abusos do governo Aristide e a exigência de renúncia. Mas, desde o início, este bloco demonstrou sua estreita relação com imperialismo, chegando a defender uma intervenção estrangeira para evitar a guerra civil.
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