André Breton, Diego Rivera e Leon Trotsky no México
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“Em matéria de criação artística, importa essencialmente que a imaginação escape a toda sujeição, não se deixe impor filiação sob nenhum pretexto. Àqueles que nos pressionam, hoje ou amanhã, para que consintamos que a arte seja submetida a uma disciplina que sustentamos radicalmente incompatível com seus meios, pomos uma recusa inapelável, e nossa deliberada vontade de nos manter no lema: todas as licenças em arte.“

André Breton e Leon Trotsky

A arte tornou-se um produto caro nas mãos da burguesia. Não que nunca tivesse estado sob seu controle desde que esta classe vem construindo sua sociedade e sua cultura. Mas a crise que vive o sistema capitalista coloca a necessidade de melhor se controlar as produções artísticas. Por um lado, para ter uma diferente fonte de lucro fora do trabalho produtivo, pois cada vez mais, por uma série de motivos, sua margem de lucro está em queda. Por outro lado, para evitar as manifestações independentes que possam vir a abalar o status quo da sociedade de classes, tendo o controle total sobre a produção artística ou cooptando as manifestações independentes (hoje, quase fenômenos) que surgem, a partir da dependência material que impõe ao artista. Dessa forma, a neobarbárie capitalista faz com que a arte deixe de ser artística, dando a ela apenas valor de mercado, e marginalizando os grandes artistas que não abrem mão da sua independência de criação.

Refletindo nisso, Trotsky e Breton escreveram, no ano de 1938, o manifesto “Por uma arte revolucionária independente”. Naquele ano, o mundo estava às portas de mais uma guerra entre potências imperialistas, que nas armas queriam conquistar a hegemonia do mundo. No entanto, via-se no Eixo (Alemanha, Itália e Japão) uma nova face do capitalismo, que não usava de demagogia para esconder seu caráter ditatorial, mas sim deixava às claras todo o totalitarismo e a crueldade desse sistema de exclusão e fome. A crise econômica abalava as potências capitalistas de ambos os lados envolvidos na guerra, que não conseguiam ver outro caminho a não ser a destruição dos países inimigos.

Em meio a tudo isso, também se encontrava a recém criado estado operário russo, ainda cheio de contradições econômicas e sociais internas. Para piorar, na luta contra o marxismo revolucionário a burocracia estalinista e seu “socialismo num só país“ saíram vitoriosos, fato este que veio a trazer conseqüências funestas, como os Processos de Moscou, entre 1936 e 1938, e todo o processo de restauração do capitalismo na Rússia. Para a arte, o estalinismo “elaborou“ o realismo socialista, fazendo da arte um mero objeto nas mãos dos burocratas que dirigiam o partido e a nação e dos artistas meros paisagistas da construção duma sociedade que era caricatura daquela que Lênin e Trotsky se propunham construir quando dirigiram os processos revolucionários de 1917.

Este é o momento em que Trotsky, embora atarefado pela preparação da conferência de fundação da IV Internacional (1938), depois de cerca de uma década, volta a se dedicar ao debate sobre os rumos da arte e sua relação com a revolução socialista. As idéias outrora defendidas na obra Literatura e Revolução (1924) eram não apenas resgatadas como eram reformuladas, seja pelo amadurecimento teórico e político do grande revolucionário russo, seja pelas discussões com o poeta surrealista francês André Breton, que muito admirava Trotsky. Fruto dos encontros entre Trotsky e Breton, primeiros e únicos, é o manifesto de fundação da Federação Internacional da Arte Revolucionária Independente (FIARI), chamado “Por uma arte revolucionária independente“.

Neste breve texto, Trotsky e Breton denunciam o movimento que faziam as potências imperialistas rumo à guerra mundial, colocando que o capitalismo seja em sua face democráticos, seja em sua face ditatorial, são lados diferentes da mesma moeda. Além disso, denunciam o que o capital vem fazendo em relação à arte e comparam às atrocidades que também fez o estalinismo na Rússia. Avançam mais, defendendo como revolucionária toda a arte que seja independente e chamando todos os artistas revolucionários e independentes a se somarem à construção da FIARI.

Hoje, mais de que nunca, está colocado para nós o debate sobre a arte. O capitalismo não apenas mantém-se em sua crise, como a aprofunda, principalmente agora com a derrota da política neoliberal. E quem irá sofrer serão aqueles que não possuem os meios de produção, aqueles que trabalham para conseguir sua subsistência, aqueles que são marginalizados e oprimidos por serem “diferentes“. E os artistas acabam por ter apenas dois caminhos: vender-se à burguesia, produzindo arte para ser consumida e em pouco tempo esquecida, ou lutar contra o capitalismo, mantendo sua independência de criação e somando-se aos trabalhadores de todos os países na construção da revolução socialista mundial.