Montante de lucros remetido pelas montadoras ao exterior explodiu nos últimos anosA indústria automobilística no Brasil sofreu um grande baque a partir de setembro de 2008. Ainda assim, teve o melhor ano no país. A produção nacional chegou a 3,2 milhões de veículos, um aumento de 15,2% em relação ao ano anterior. Foram vendidas 2,82 milhões de unidades, um recorde de produção e vendas.

No entanto, em 2009 já houve uma queda na produção, mesmo com a redução de IPI. As exportações diminuíram 52% no primeiro trimestre e a projeção anual é de uma queda ainda maior.

O governo reduziu o IPI para tentar manter os lucros e as vendas das multinacionais. Mas de nada adiantou. Depois de uma curta reativação, as vendas de automóveis em abril caíram 13,7% e a produção, 6,9%. A Anfavea – entidade da patronal automobilística – prevê queda na produção de 11% este ano.

A reestruturação a partir de 1990
Em 1990, havia no país seis empresas com plantas instaladas, com uma produção média de um milhão de veículos. Um processo de reestruturação ocorreu com a entrada de novas tecnologias, trabalho em times por condomínios industriais e flexibilização. Tudo com a concordância das lideranças sindicais, que participaram das câmaras setoriais. Novas plantas foram instaladas no país, deslocando a produção para áreas com tecnologia de ponta, houve mais terceirização e os salários foram reduzidos em até um terço em relação ao praticado nas antigas fábricas.

De seis marcas em 1990 se passou para 15. Hoje, o setor automotivo, contando toda a cadeia produtiva, responde por 25% do PIB. Apenas as montadoras já representavam em 2005 algo em torno de 11% do PIB e 20% das exportações brasileiras.

O Brasil se transformou numa espécie de laboratório para as multinacionais do setor. A GM é um exemplo. Instalou em Gravataí (RS) a fábrica mais moderna e com a maior produtividade do mundo, além de exportar técnicos para outras regiões. Os principais executivos da empresa passam por aqui.

O Estado, através dos governos federal, estaduais e municipais, sempre prestou grande ajuda às montadoras. A isenção do IPI, inaugurada com os carros populares em 1992, sempre foi usada em momentos de retração de mercado. As novas plantas contaram com todo tipo de isenção de impostos, doações de terrenos e empréstimos do BNDES.

Assim, foram transferidos bilhões de dólares dos cofres públicos para as multinacionais, que depois os enviaram para suas matrizes no exterior. O governo Lula aprofundou a política de isenções e renúncia fiscal para as grandes montadoras, além do financiamento dos bancos estatais. Em 2008, destinou 4 bilhões de reais para as montadoras, enquanto Serra injetou outros 4 bilhões.

Este mesmo ano registrou o recorde de envio de recursos para o exterior pelas montadoras, as remessas de lucros. De janeiro a setembro de 2008, as montadoras enviaram 4,8 bilhões de dólares para o exterior. A indústria automobilística é a campeã de remessa, respondendo sozinha por 17,5% de todo o envio de lucros e dividendos ao exterior. De 2005 a 2008, as remessas das montadoras para o exterior cresceram quase dez vezes.

A situação atual da GM no Brasil
Ao contrário da matriz, a GM do Brasil (GMB) vem acumulando lucros desde 2006. A região – que inclui América Latina, África e Oriente Médio – teve lucro de 16 milhões de dólares no último trimestre. Foi uma grande queda diante dos 500 milhões no primeiro trimestre de 2008. Mas, ainda assim, teve lucro frente ao prejuízo de 6 bilhões de dólares da GM no mundo.

Estaria em fase de negociações com o governo do Rio Grande do Sul e o governo federal a ampliação da produção em Gravataí até 2012, com investimento de R$ 1 bilhão. Esse processo está paralisado com a indefinição do futuro da GM.

A GM demitiu no Brasil cerca de 2.500 trabalhadores com contrato por prazo determinado este ano, alem de diversos PDVs, que eliminaram mais de 600 postos de trabalho no último ano. Mantém uma política constante de redução de custos, com pressão sobre os trabalhadores para flexibilizar direitos – contrato temporário, banco de horas, novas grades salariais. A empresa conseguiu em 2008 um aumento de produtividade de 37 carros por hora nas três plantas no país, o que daria uma produção anual de 150 mil carros.

Com a crise da matriz, a GMB vem sendo cobiçada pela Fiat, pois é uma das partes lucrativas da GM. Os executivos da GM têm insistido que uma concordata da empresa nos EUA não terá conseqüência no Brasil, independente financeira e juridicamente.

Isso evidentemente é parte de uma campanha da empresa para tranquilizar os consumidores e os trabalhadores. O destino da GM no Brasil está intimamente ligado ao desenlace da crise da matriz nos EUA.

Post author Luiz Carlos Prates “Mancha”, da Direção Nacional do PSTU
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