Rio de Janeiro - Garis fazem manifestação saindo da sede da Comlurb, na Tijuca, em direção à prefeitura, na região central da cidade (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Redação

No momento em que fechávamos esta edição, os trabalhadores de aplicativos preparavam uma mobilização nacional para o dia 1º de abril. Não é um movimento isolado, por todo o país greves e mobilizações se insurgem não só contra a precarização do emprego, mas contra os diversos ataques em meio à escalada da inflação, da carestia, da fome e do desemprego. Greves como a dos garis no Rio de Janeiro, de rodoviários em várias partes do país, do funcionalismo federal, de professores estaduais e municipais, dos operários da Avibrás na região de São José dos Campos (SP).

Fervilha uma indignação crescente por baixo contra a crise e as condições de vida, também contra o governo, metido em casos de corrupção como o “bolsourão” do MEC. “É necessário que os trabalhadores unifiquem suas lutas, a CSP-Conlutas chama as centrais sindicais para que atuem pela unificação dessas lutas, pois é preciso que avancem rumo a uma greve geral, para que botemos abaixo, já, Bolsonaro e Mourão“, defende Luiz Carlos Prates, o Mancha, da Secretaria Executiva Nacional (SEN) da CSP-Conlutas e da direção do PSTU.

Uma Conferência da Classe Trabalhadora (Conclat) deveria servir para isso, porém, as direções majoritárias do movimento estão organizando uma não para fortalecer as lutas, mas para um projeto eleitoreiro. Da mesma forma, a Campanha Nacional Fora Bolsonaro definiu o dia 9 de abril como dia nacional de lutas mudando seu eixo para “Bolsonaro nunca mais”.

A CSP-Conlutas está convocando o 9 de abril, mas em defesa da unificação das lutas em torno do “Fora Bolsonaro e Mourão já”. Isso porque só a luta da classe trabalhadora pode reverter a enorme crise social em que estamos e, dentro disso, derrubar esse governo, pela ação direta da classe, é condição fundamental. Junto com isso, enfrentar governadores e prefeitos que aplicam o mesmo projeto econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes e dos patrões, seja de qual partido for.

Temos que apontar o caminho da luta, rumo a uma saída operária e socialista“, defende Mancha.

Rio de Janeiro

Onda de greve no Rio de Janeiro tem garis à frente

Os trabalhadores garis da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) da cidade do Rio de Janeiro estão em greve desde o último dia 29 de março. A greve foi aprovada em uma grande assembleia dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do Município do Rio de Janeiro (Siemaco-RJ). Os trabalhadores da Comlurb já acumulam três anos sem reajuste ou reposição das perdas inflacionárias. Com a disparada dos preços dos alimentos básicos, a situação ficou insuportável. Esse é o principal motivo do movimento grevista.

A Prefeitura, a Justiça do Trabalho e a Comlurb fizeram todo tipo de ameaça para evitar a deflagração da greve. Mesmo sem a empresa municipal cumprir a lei de reposições salariais anuais, a Justiça do Trabalho chegou a determinar uma multa contra o Siemaco de R$ 200 mil por dia de greve.

Como se não bastasse, a Prefeitura tenta combater a greve com repressão. No dia 28, Bruno Gari, liderança da oposição sindical da CSP-Conlutas e militante do Combate/PSOL, foi agredido violentamente pela Guarda Municipal e preso. No dia 29, houve mais truculência e perseguição, com uma nova detenção de Bruno, além de Diego Vitello, Julio Condaque (da CSP-Conlutas e do PSTU) e do ex-vereador Babá (PSOL). A agressão ocorreu quando eles realizavam piquete e conversas com a base. Os militantes foram mantidos detidos até por volta das 13h. O prefeito Eduardo Paes comanda a repressão, chamando os garis de “baderneiros”. Apesar de toda a repressão, os piquetes crescem, a greve segue forte e aumenta.

A luta dos garis é parte da revolta popular refletida em outras paralisações e mobilizações também no Rio de Janeiro, como explica Julio Condaque: “É uma greve vitoriosa, com uma adesão muito grande. Não vamos nos calar, mesmo com toda intimidação e truculência da Guarda Municipal e do prefeito. Essa greve está empolgando outros setores, como rodoviários e trabalhadores dos aplicativos. Queremos fazer um ensaio da greve geral aqui no estado, e vamos estar nos piquetes até a vitória dessa greve.”

São Paulo

Luta dos operários da Avibras contra as demissões e mobilização de professores contra Doria

Trabalhadores da Avibras em greve. Foto Cristiane Cunha/SindmetalSJC

Na região de São José dos Campos, a Avibras, uma empresa de produtos e serviços para a área da defesa, entrou com pedido de recuperação judicial e anunciou a demissão de 420 trabalhadores. Isso mesmo com um patrimônio líquido de mais de R$ 2 bilhões (segundo análise feita pelo Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos –Ilaese) e uma projeção da própria empresa de aumento nas vendas até 2023.

Os trabalhadores demitidos estão se mobilizando e montaram um acampamento em frente à fábrica, na cidade de Jacareí (SP). Enquanto fechávamos esta edição, os operários estavam se preparando para ir a Brasília realizar um protesto em frente ao Palácio do Planalto e ao Ministério da Defesa.

Por se tratar de uma empresa estratégica e de interesse nacional, é inadmissível que a Avibras continue nas mãos de acionistas. Há seis décadas, a fábrica desenvolve produtos bélicos com tecnologia de ponta e mão de obra especializada”, afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e militante do PSTU, Weller Gonçalves, defendendo a manutenção dos empregos e a estatização da empresa.

Professores lutam por reajuste e protestam contra ataques de Doria

Os professores da rede estadual, assim como os trabalhadores da educação em outros estados, lutam pelo reajuste do piso e também contra uma “Nova Carreira” (ou PLC 03) que a Assembleia Legislativa tenta impor à categoria. “Esse PLC 03 instaura uma falsa nova carreira que retira os poucos direitos que a gente tem, se baseia em gestão empresarial e mérito e não na formação ou no tempo de carreira, e aumenta ainda mais a jornada de trabalho que já é abusiva“, denuncia a professora Flávia Bischain, militante do PSTU e do Coletivo Reviravolta na Educação, de oposição à direção majoritária do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). O projeto foi aprovado no dia 29 de março último sob protestos da categoria.

Minas Gerais

Guarda Municipal de Kalil agride professores

Os professores da rede estadual e municipal também exigem o pagamento do piso nacional e o fim da Lei de Responsabilidade Fiscal que penaliza todas e todos que dependem dos serviços públicos. Além disso, os trabalhadores do metrô de Belo Horizonte estão em greve desde o dia 21 de março. No último dia 28, foi realizado um ato unificado de todos os setores que estão em luta.

A resposta dos governos tem sido repressão. Um ato pacífico em frente à Prefeitura de Belo Horizonte, com cerca de 30 professores do município, em greve desde o dia 16 de março, exigia que o prefeito Kalil abrisse o diálogo com a categoria, a qual foi violentamente reprimida pela Guarda Municipal,

Wanderson Rocha, professor e militante do PSTU foi agredido covardemente com cassetete na cabeça e foi levado ao Hospital João XXIII com traumatismo craniano, desacordado e sangrando pelo ouvido. Felizmente, Wanderson se recuperou, e mesmo assim a Guarda Municipal tentou alegar elementos para justificar a sua prisão.

Maranhão

Greve dos rodoviários já é uma das maiores da história

Os trabalhadores rodoviários da Grande São Luís estão parados há mais de 44 dias. Nesta quarta-feira, 30 de março, ocorreu uma audiência com empresários no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), mas os patrões permaneciam inflexíveis. Em fevereiro, no início da greve, a Justiça havia emitido mandado de prisão contra dirigentes da categoria. O governo, por sua vez, insiste em impor multas aos trabalhadores caso a paralisação persista.

Nós prestamos nossa total solidariedade à greve dos trabalhadores rodoviários em defesa do reajuste e da inclusão de mais dependentes no plano de saúde e aumento do ticket alimentação, algo extremamente justo num momento em que o país vive uma carestia, e também à população que sofre não com os rodoviários, mas com a ganância dos consórcios dos transportes, que trata rodoviários com descaso e para o povo aumenta as passagens“, afirma Hertz Dias, pré-candidato do PSTU ao Governo do Maranhão. “Não à criminalização das greves e pela reativação da Companhia Municipal de Transportes”, defende.

Piauí

Estado vive clima de greve geral

O Piauí vive um verdadeiro clima de greve geral. Em Teresina, os trabalhadores da rede municipal de ensino estão em greve desde 7 de fevereiro, exigindo o pagamento do piso nacional da categoria que o prefeito José Pessoa (MDB) recusa-se a pagar. Mas o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), também não cumpre a lei e está sem repassar o reajuste de 33,24% no piso do magistério. Por isso os professores da rede estadual entraram em greve no último dia 23 de março. Na última rodada de negociação, o governador ofereceu míseros 4,17% de aumento. A categoria não aceitou e segue na luta pelos 33,24% no piso do magistério. “O governador diz que não tem dinheiro para pagar o nosso piso. Mas a gente está exigindo que ele abra as contas do estado, provando que não tem mesmo dinheiro para cumprir a lei”, explica Yara Ferry, da Executiva Estadual da CSP-Conlutas e professora da rede pública estadual.

Teresina também é palco de manifestações unificadas, reunindo trabalhadores da educação estadual e municipal e do transporte coletivo, que também estão em greve. Nas mobilizações e atos participam ainda estudantes, o movimento por moradia e os trabalhadores das universidade federal e estadual do Piauí (UFPI e Uespi).

Prefeitura do PSOL dá aumento a empresários do transporte, mas não para servidores

Na capital do Pará, Belém, ocorreu uma mobilização contra o aumento imposto pelo prefeito Edmilson Costa (PSOL) na tarifa de ônibus. O aumento, de 11,11%, elevou o preço da passagem de R$ 3,60 para R$ 4,00. E a Guarda Municipal da Prefeitura do PSOL ainda reprimiu uma manifestação contra o aumento.

Além de conceder aumento para os empresários dos transportes, o prefeito Edmilson se nega a realinhar o piso dos trabalhadores operacionais da educação, que hoje é de apenas R$ 869,00, menor que um salário mínimo. “Enquanto Edmilson não concede reajuste aos operacionais da educação, dá aumento para os empresários dos transportes; isso é um absurdo”, denuncia Cleber Rabelo, da direção do PSTU.

Os servidores da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), responsáveis pela assistência social em Belém, também lutam por reajuste. Hoje, esses trabalhadores que prestam um serviço essencial também recebem menos que um salário mínimo. “Bora Edmilson, atende logo as reivindicações“, exige Cleber.