A mídia, o governo e a burguesia iniciaram 2004 procurando criar um clima de otimismo na população. As avaliações tentam mostrar como vitória e base para esperanças renovadas no ano que começa os sucessos demonstrados por indicadores financeiros e empresariais, como a queda do risco país, o saldo da balança comercial e a aprovação das reformas neoliberais. Eles tentam passar a idéia de que valeu o sacrifício da maioria do povo em 2003, porque daqui em diante tudo vai melhorar, com o início da retomada do crescimento sustentado.
A verdade é que, em 2003, os trabalhadores e a maioria do povo sofreram com um patamar inédito de desemprego e exploração, traduzido numa queda sem precedentes do poder aquisitivo, na precarização do trabalho e na retirada de direitos.
E 2004, no que depender do governo e da burguesia, não trará uma situação melhor para os debaixo. Ainda que o governo tente realizar muita política social compensatória e eleitoreira, visando as eleições municipais. Muito estará em jogo e enquanto isso a pátria-mãe distraída poderá estar sendo subtraída nas mais tenebrosas transações. Basta dizer que este será o ano decisivo para as negociações da Alca, cuja reunião ministerial que ocorrerá no meio do ano aqui no Brasil poderá dar os contornos finais desse acordo de recolonização.
Também não há nenhum refresco nas verbas para saúde, educação, reforma agrária e demais verbas sociais, pois o orçamento de 2004 segue tão comprometido com o pagamento de juros aos banqueiros como o de 2003, conforme acordo com o FMI. A dívida pública aumentou, apesar do governo ter realizado o maior superávit primário da história e ter pago o maior montante de juros aos banqueiros. Daí que as metas de reforma agrária mais uma vez não serão cumpridas.
O saco de maldades, apesar do ano eleitoral, vai continuar vigorando especialmente contra os servidores públicos. Vem aí mais uma contra-reforma: a privatização da universidade pública, na qual, segundo o super-ministro José Dirceu, o pau vai comer. Em conivência com a direção da CUT e da Farsa Sindical, também vão querer aprovar uma contra-reforma sindical, que permita engatilhar para 2005 o assalto aos direitos trabalhistas. Os servidores receberam nova provocação: depois de oito anos sem reajuste e de terem recebido apenas 1% em 2003, o governo prevê no orçamento um aumento de menos de 3%.
O desemprego, por sua vez, seguirá praticamente na mesma e o arrocho e a queda na renda seguirão se acentuando, já que as metas de inflação do governo também são garantidas através do assalto ao bolso da classe trabalhadora.
A verdade é que sem ruptura com a Alca e o FMI não haverá nem emprego, nem salário, nem reforma agrária e nem direitos para a classe trabalhadora. O que está no horizonte, portanto, é um ano de lutas por salário, contra as reformas universitária e sindical, por emprego e reforma agrária, e também pela ruptura das negociações da Alca, do acordo com o FMI e pelo não pagamento da dívida externa.
A contradição, mais uma vez, é que teremos a direção majoritária do movimento atrelada ao governo. O desafio é construir um pólo combativo para levar adiante as lutas, buscar realizar um Seattle no Brasil contra a Alca e avançar na construção de uma alternativa política, de luta, de classe, revolucionária e socialista, que se afirme como oposição de esquerda ao governo Lula.
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