13 de maio: 132 anos de uma abolição sem reparações

A Secretaria Nacional de Negras e Negros do PSTU apresentará, nas nas próximas semanas, uma série de textos contando a história de libertação do povo negro.

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Cláudio Donizete, do ABC Paulista

No próximo 13 de maio, serão completados 132 anos da abolição formal feita pela princesa Isabel, no Brasil. Uma data envolta em cinismo já que, por um lado, tenta esconder a história de luta e resistência do povo negro e escravizados por mais de 380 anos no Brasil e, por outro, oculta que as classes dominantes aboliram a escravidão sem promover uma política de reparações ao nosso povo negro.

Uma história de lutas e rebeliões

A luta por liberdade e dignidade entre os negros arrancados do continente africano e escravizados no Brasil acontecia desde sua captura, comercialização e venda de suas vidas ainda em suas aldeias, povoados, vilas e estados de origem. Resistiam dentro dos navios negreiros aos tratamentos desumanos, onde muitos não sobreviviam e outros se negavam a chegar vivos por aqui para virar escravos.

E, quando do desembarque dos sobreviventes, a primeira tarefa era saber como se organizar, rebelar-se e constituir as mínimas condições humana nos quilombos ao redor das cidades e fazendas.

Essa resistência e luta que libertou mais de 80% dos negros escravizados antes do tal ato Abolicionista de uma branca monarca e servil aos senhores de engenho, cafeicultores e mineradores foi constituída de muitas vidas, suor e sangue negro.

A narrativa oficial do processo de escravidão no Brasil é o preâmbulo da constituição do racismo estrutural e pseudo sutil que se abate sobre a nossa classe. Reforça uma falsa narrativa de passividade dos negros escravizados e seus descendentes. Foi poetizada e contada muitas vezes por escritores comprometidos com a Coroa portuguesa e seus interesses comerciais.

É o caso de Gilberto Freyre, que discorreu em sua obra mais famosa, Casa Grande e Senzala, uma verdadeira fábula sem nenhuma conexão com a luta de classes, desconsiderando o protagonismo negro de negação absoluta de sua escravidão e exploração forçada, bem como, de suas revoltas, motins, organizados nas grandes cidades como a Balaiada, Vacinada, Revolta do Malês, Marujada e tantas outras que culminaram com a constituição de diversos quilombos de negros fugidos, alforriados e o povo pobre de cada localidade.

Essa foi a senha de nossa libertação, com muitas mortes e também ousadia revolucionária contra capitães do mato e seus jagunços a mando de seus sinhozinhos e coronéis. Inclusive, motivada diretamente pela Revolução Haitiana, onde o medo da burguesia era de no Brasil se tornar um novo Haiti: Revolucionário e Rebelde!

Saber a nossa história para mudar o nosso presente

É essa narrativa que a Secretaria de Negros e Negras do PSTU quer expor, debater e refletir nas elaborações políticas de nossa época. Ainda mais diante da pandemia da COVID-19 e da emergência de uma nova crise econômica capitalista.

Uma pandemia que afeta de forma desproporcional os negros e pobres daqui, e de todo o mundo. Uma catástrofe ligada diretamente à desigualdade social, racial e de gênero criada pelo mesmo sistema econômico que se alimentou da escravidão negra: o capitalismo. Revelando, portanto, a necessidade da luta por Reparações históricas ao povo negro da África, da América Latina, do Caribe e de todo o mundo.

Apresentaremos nas próximas semanas, uma série de textos contando a nossa história a partir de nossas mãos negras, quilombolas e libertas pelas lutas de Dandara, Zumbi e de tantos outros negros e negras rebeldes e revolucionários.

Quando a História for escrita como deve ser, os homens ficarão admirados do comedimento e da grande paciência das massas, e não da sua ferocidade

(CLR James – Jacobinos Negros)